29/06/2016

Sol nascente



Sol nascente

O sol nasceu às 21:29 horas
 no relógio de Dalí.
O pintor trocou o dia com a noite
a lua com o sol.
Os opostos atraem-se,
digladiam-se 
na procura surreal 
da pedra filosofal.

ana


28/06/2016

"Danseuses" et Istambul

Uma viagem pela arte da Índia desde 1570 a 1660, sob a égide de quatro imperadores, Akbar (1555), Jahângir (1605),  Shâh Jahân (1627) e Aurangzeb (1658).


15 x 10,5 cm

Danseuses Kathak (c.1675), Victoria and Albert Museum, Londres


Danseuses
Conformément à une très ancienne tradition des Indes, la danse, plus que toutte autre forme d'art, connut une nouvelle ère de succès. Mais, sous la dynastie moghole, elle tomba dans le mépris parce qu'étrotement associée aux  moeurs des femmes légères. 

George Lawrence, Artes des Indes. Paris: Fernand Hazan. 1963, s/nº p.


Marcadores: 
Prince trônant choisissant un fruit, Asie centrale, 1550-1575; Institut du Monde Arabe
Khamsah de Nizami, Layla et ses compagnes dans un jardin, Inde moghole, vers 1640-1645; Institut du Monde Arabe

Detalhe do mosaico que representa a Virgem Maria e Jesus no trono, na Basílica de Santa Sofia, em Istambul, antiga Constantinopla.
No reverso vê-se o mosaico completo, o imperador Constantino apresenta o modelo da cidade murada (direita), e  o imperador Justiniano oferece a Basílica de Santa Sofia (esquerda).
Aya Sofya significa Sagrada Sabedoria.



Obrigada MR.:))

Não é dança Kathak mas gostei desta expressão.

Kathak 

26/06/2016

Do fado e das entranhas da terra - corre um rio

Nas entranhas da terra sente-se com mais fervor o som do fado e entende-se a alma portuguesa.

Corre um rio
que lavra no coração
da terra lágrimas de cristal,
amor.
Faz nascer
símbolos fálicos - fertilidade.

ana

Grutas de Mira D'Aire



S. João (Lousã), 2016


Sei de um rio
sei de um rio
em que as únicas estrelas
nele sempre debruçadas
são as luzes da cidade


Sei de um rio
sei de um rio
rio onde a própria mentira
tem o sabor da verdade
sei de um rio

Meu amor dá-me os teus lábios
dá-me os lábios desse rio
que nasceu na minha sede
mas o sonho continua

E a minha boca até quando
ao separar-se da tua
vai repetindo e lembrando
sei de um rio
sei de um rio

E a minha boca até quando
ao separar-se da tua
vai repetindo e lembrando
sei de um rio
sei de um rio

Sei de um rio
até quando



24/06/2016

Graffiti ou Cartoon?

a  black cat
a mouse with an axe.
one is the bad guy

ana

Poderia ser um cartoon

Registos na esquina de um café, Ourém


Um cartoon em plena 2ª Guerra Mundial. (Tem muito que se lhe diga)
Nunca entendi porque é que os ratos têm sempre que vencer os gatos. Adoro gatos.

22/06/2016

"como distinguiremos amizade e amor?"

Antes de mais, porém, como distinguiremos amizade e amor? A distinção que mais espontâneamente nos ocorre - é  que o amor exige relações sexuais ou sempre tende para elas. Portanto implica uma poderosa acção dos sentidos. A amizade, não. Também espontâneamente nos ocorre que o amor é uma afeição mais intensa, mais apaixonada, mais exclusivista. Consequentemente, porventura mais efémera. Ao passo que a amizade é mais serena e persistente,  - porventura menos egoísta por isso mesmo mais da ordem intelectual e do moral. Perfeitamente se concebe (e a realidade no-lo faz admitir) que um indivíduo tenha simultâneamente várias amizades. Muito mais difícil nos é aceitarmos que tenha simultâneamente vários amores. (...)

José Régio, Confissão de Um Homem Religioso. Porto: Brasília Editora, 1971, (volume póstumo) p. 159-160.
Uma partilha após o comentário de Bea ao poema Câmara Clara.

Leituras junto ao pelourinho (datado de 1620), Ourém


Pietro Rotari, detalhe, Jovem com livro, (pinterest)
Jaded-mandarin.tumblr.com

Girl With a Book (detail), Pietro Rotari, ca. 1750:


https://pt.pinterest.com/pin/398427898262236121/
Pietro Antonio Rotari (Italian artist, 1707-1762) Young Lady with a Book:

20/06/2016

Câmara clara

CÂMARA CLARA
Amadeo Modiglliani 'Head of a Young Girl (detail)
As dunas, o deserto ocre e seco são a
paisagem única  na câmara clara.
Ao longe uma miragem,
resultado da loucura intensa do sol abrasador.
Touaregues nómadas atravessam o Atlas
para vender os seus produtos de prata e cobre.
Os únicos que passam o deserto incólumes.
No mar de areias, a brisa quente e seca,
toca no pensamento e produz oueds
com águas límpidas e cristalinas.
O amor é isto: a fronteira 
entre o deserto e o oued,
a rosa do deserto que brota solitária
na vastidão cruel das areias e que
ora floresce e brilha,
ora se fecha numa concha e adormece.

ana

https://theinkbrain.wordpress.com/2011/08/



18/06/2016

Auricular


O auricular fecha-nos para o mundo mas abre-nos a possibilidade de ouvirmos a música que escolhemos nas melhores condições.
Será bom estarmos fechados para o mundo?
No Metro, na fila para o autocarro, nas ruas, as pessoas estão fechadas no seu mundo. O som dos pássaros, o ruído da cidade passa ao lado. Autómatos?

15/06/2016

Retratos desfeitos


James Ensor, The Skeletor Painter,
1896 - Royal Museum of Fine Arts Antwerp,
http://arthistoryproject.com/artists/james-ensor/the-skeleton-painter/


Retratos desfeitos

Dúbio como Janus,
duas caras
duas máscaras de teatro
duas faces: uma branca outra negra
pintadas com esgar,
carregadas com o peso da tinta
enganadora.

A paleta no chão,
os tubos de tinta abertos
espalhados no soalho,
o cheiro a terebentina e a
resina marcam a indefinição
abstracta surgida na tela.
Um torso?
um corpo?
ou apenas retratos desfeitos?
Retratos desfeitos.

ana

14/06/2016

Samba Pa Ti

Apesar de gostar muito de piano acho que uma guitarra sabe chorar melhor.

Uma música que gosto muito. 
Uma música que nunca dancei
mas que guardo com nostalgia desde o baile de finalistas do liceu.





12/06/2016

Expressões na pedra

LORELEI

No amor o que se quer é parar o amor. No momento em que mais se ama ou quando não se pode ser amado. “Quero parar aqui”. O tempo mata. O corpo quando se move já está a morrer. A fugir. A passar para outro corpo. “Quero parar-te agora, assim”. O tempo é um movimento dentro das coisas. 
[Introdução.] 

Miguel Esteves Cardoso (texto), Gérard Castello Lopes (fotografia) – “As Lorelei de João Cutileiro”. Porto: Editora, Porto, 1989.
Esculturas de João Cutileiro *


Vê-se na água escura de
onde vem. Vê-se feliz, de
corpo inteiro, em todas as
posições, com todas as
idades, menina mais uma
vez, sorrindo na água-mãe. 

[s/n p.]



O coração não chega para 
o que sente. Desfaz-se 
em lágrimas e parecem-lhe
poucas. O corpo inteiro
é uma lembrança de um
outro que já teve.  

[s/n p.]







Perto dos olhos pára uma
parecença de verdade.
Ninguém tem os olhos
errados.
Olhos de amor são olhos
de quem tem medo de 
morrer. Olhos parados.

[s/n p.]






*As fotografias são minhas, do livro, e não fazem justiça às fotografias de Gérard Castello Lopes.


10/06/2016

Cristais de gelo versus "desamor": diálogos

Três cubos de gelo


Cristais de gelo
diamantes em bruto,
apresentam o movimento refractário da dor
infligida no momento trágico
da punção realizada pelo silêncio.

ana 


(...) neste nosso mundo antes vemos triunfar  a injustiça, a crueldade, o egoísmo, o desamor. Neste nosso mundo são frequentemente os piores que vencem, os melhores os vencidos.

José Régio, Confissão de Um Homem Religioso. Porto: Brasília Editora, 1971, (volume póstumo) p. 117.


07/06/2016

A mentira e a verdade


Jules Joseph Lefebvre, Bras croisés sur la poitrine,
retirado do Pinterest

A verdade e a mentira: a verdade do pregador e a mentira dos ouvintes. As tres especies de mentiras com que os escribas e fariseos hoje contradisseram, caluniaram e quizeram afrontar e deshonrar o Filho de Deos.
(...)
No Maranhão até o sol e os céus mentem porque no Maranhão não há verdade.

Sermoens do Padre Antonio Vieyra da Companhia de Iesu, Prégador de Sua Magestade Quarta Parte,  Lisboa: Na officina de Miguel Deslandes, MDCLXXXIII, - Sermam da Quinta Dominga da Quaresma: Na Igreja da Cidade de São Luis  do Maranhão. Anno 1654, fls (291 a 317), 292 



A mentira e a verdade

A mentira dos amantes e a verdade dos amigos
são como os céus do Maranhão,
vislumbrados por Vieira:
os primeiros são doces e amargos
e os segundos dolorosos.

A mentira dos amantes que pregam o amor e a sedução.
A verdade dos ouvintes que tudo ouvem e nada crêem.
A mentira sob a égide do poder  frágil e breve.
A verdade sob o escudo da amizade.

A mentira do fogo que arde e se volatiliza.
A verdade da água que brota da nascente.
A mentira do amor que se dissipa
e a verdade do afecto consolidado.

A raiva e o ódio do primeiro.
A estima e o apreço do segundo.
A mentira abismo.
A verdade cubo gelado.

Qual é melhor?
A verdade ou a mentira?
A mentira ou a verdade?
Verdade.

ana

Radiohead - duas canções Creep e Fake Plastic Trees, duas músicas da banda que mais gosto.

04/06/2016

So Different



God grant me the serenity to accept 
The things I can not change
Courage to change the things I can
And the wisdom to know the difference

(...)

02/06/2016

"...no país de Caeiro"


Passo muito depressa no país de Caeiro
Pelas rectas da estrada como se voasse
Mas cada coisa surge nomeada
Clara e nítida
Como se a mão do instante a recortasse


Sophia de ;Mello Breyner Andressen, In Dual


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