28/11/2015

As primeiras camélias

A Natureza é absolutamente surpreendente. Enquanto o Outono prossegue com as folhas mortas na maior parte das árvores, outras há que se renovam e brotam com vigor e pujança numa beleza irrepreensível. A árvore da camélia, na sua maioria, ainda verde, salpicada por rosa aqui e acolá revela os ciclos habituais seguindo a ordem das coisas. No jardim ocre, amarelo e castanho o rejuvenescimento pontual faz acreditar na vida.



26/11/2015

O dia declina

Há muito tempo que ando para partilhar um livro de poesia escrito por uma amiga. Tive o feliz acaso de transportar para o lançamento do livro duas pessoas que lhe eram muito queridas. É uma Mulher com M grande, tomou o caminho e foi "para além da curva da estrada" como o belo poema de Alberto Caeiro. Equacionou a sua existência e para ser coerente consigo própria teve que fazer escolhas muito difíceis. É destemida, mas não sem temor, decidida, mas não sem dúvidas, forte, mas não sem fragilidades, ela avança hoje, devagar, devagarinho, amanhã, mais depressa, mas neste corre-corre do dia-a-dia publicou o seu primeiro livro de poesia: um objectivo que tinha na vida.
Parabéns Gracinha!



O dia declina

O dia declina
A selva escurece pouco a pouco
Os contornos das árvores
Assemelham-se a monstros
Os gritos selvagens dos bichos
Ecoam por toda a parte
Luta-se pela sobrevivência
e no fundo do coração da terra
Abre-se uma caverna inimaginável
Onde reina o silêncio
Vem de lá o mistério insondável
Que nos sústém o alento
A sorte é haver nevoeiro
No meio dos bichos
A ponte interminável para chegar à caverna
É a imaginação.

Graça Alves, Cores do Silêncio. Coimbra: Palimage, 2015, p. 57.




24/11/2015

Café

Café Central, Ourém

O café Central de Ourém nasceu por volta de 1928. 
(Informação do blog do café)




No silêncio calmo do café quase vazio,
as cadeiras e as mesas convidam ao repouso. 
O caderno de capas pretas ocupa parte da mesa circular.
O lápis de carvão inerte não capta a luz do momento.

No janelão os vasos de plantas verdes 
cortam a monotonia cromática.
Na rua as pessoas passam apressadamente, 
ninguém olha para o velho café.

Duas mesas à frente está sentada uma mulher,  
cuja idade é difícil de calcular;
o seu rosto vazio revela as marcas do desemprego. 

O som da máquina corta o silêncio,
 chega o café quente, cremoso, a chamar para a realidade.
A alma aquece e ilumina o pensamento. 



21/11/2015

Para a Sandra

Vitamina C em forma de sol 
e umas violetas
com os votos de um dia muito feliz.


Muitos Parabéns!

Depois de ter visto no Prosimetron aqui está a minha surpresa.
Uma mulher portuguesa que admiro, pois partiu porque o nosso país não é para jovens.
Já tive ocasião de dizer isto à Sandra que vive na Holanda, um país onde o sol não tem tanta força como no nosso, mas que acolhe jovens especializados e lhes dá valor.

[Não arranjei um vídeo do teu ano],

20/11/2015

Verão de 2012

O Verão de 2012 é um livro que foca o confronto entre a vida e a morte.

 Isaac Whood (1688-89–1752) Two Boys with Greyhounds

http://bjws.blogspot.pt/2015_07_31_archive.html

Há muita gente que não gosta de animais nem de pessoas, o que é compreensível; há gente que gosta de animais mas não de pessoas, o que é lógico; mas não há ninguém que não goste de animais e goste de pessoas, esta última hipótese não pode verificar-se, porque quem não consegue experimentar o amor sem causa não pode encontrar em parte alguma causa  bastante para o amor.

 Paulo Varela Gomes, O Verão de 2012. Lisboa: Tinta da China, 2014, p. 52.


Conhecer com mais precisão a fatalidade da morte é um acto de solidão. 
Julgo que o autor do livro está a vencer a doença. 


Conheci Paulo Varela Gomes em Goa, na Fundação Oriente. Pouco privei com ele mas parecia-me uma pessoa com sensibilidade. Acolheu-me muito bem. 
A especialidade dele é História da Arquitectura e das Artes.

18/11/2015

Livros


Um dos últimos livros de poesia que li começa com uma dedicatória também ela um verdadeiro poema. Transcrevi parcialmente, pois não coloquei os nomes. Apesar de ser uma homenagem pública, não quis transpor as fronteiras da  
privacidade gravada no livro. Os nomes são nomes e esses são intocáveis.

São quatro os livros que escoram a biblioteca que
tenho dentro da cabeça. São os meus livros mais 
valiosos.
Nas suas folhas sempre abertas deposito alguns
farrapos de nuvens e a máquina frágil do meu coração.

[aos pais]
por todas as palavras e pela aprendizagem do silêncio

[aos avós]
pelas janelas abertas para os quintais e pelas
raízes que as suportam.


Livro IV
Os lírios são livros

Os livros lêem-se com o tronco
inclinado sobre as mãos. Descem as mãos sobre 
as palavras  só depois poisamos sobre o poema. São 
dois movimentos sucessivos no movimento
circular do mundo

sobre o livro fechado
                                          e sobre o livro aberto.
Para subir depois ao cume das palavras o
movimento deve ser contrário: de cima                                    Rick Beerhorst *

para baixo. Também a noite declina para ascender
à luz e todos os rios descem em direção à primeira
nascente. E os corpos também se movem

sempre se moveram
                                 em espirais descendentes
para subir as torrentes de lava que os atravessam.

Lê-se então o livro com a lenta respiração das
mãos. No tremor das mãos sibila o interior do 
mundo. Também os lírios são livros

que se abrem à luz de todas as manhãs, perfumes
brancos densos vapores que se elevam da terra
escura. E vamos devagar por dentro da raiz das
coisas

e vamos devagar porque o tempo não conta

                                é tempo transmutado em luz
e o que é eterno desconta nos cálculos do tabelião
da morte.

Depois de fechar o livro lê-se o livro por mais três
meses seguidos. Espera-se que chegue a magia do
esquecimento. Espera-se que acordem as divinas
criaturas e

derramem lágrimas e leite

e que os homens ponham a funcionar as líquidas
máquinas circulares.

Dos livros brotarão lírios
                                    e dos lírios brotarão livros 

e sabe-se que em toda a sua glória nunca salomão
se vestiu assim: do mais puro metal das palavras,
do ouro das coisas mais puras, do fulgor dos rios
eternos, dos luzentes rios

                    que ligam o céu e a terra.

Rui Miguel Fragas, Não sei se o Vento.Óbidos: Poética Edições, 2015, p. 73-74

*Daqui


16/11/2015

Para o João Menéres

Parabéns e um dia muito Feliz. :))

Este desenho foi realizado, tanto quanto soube, por um pintor amigo do João para o livro de curso. A fotografia é do João mas eu recortei-a pois não estava em destaque; estava sim, no seu escritório antes da mudança. 
Julgo que agora tem um novo espaço, onde desejo seja muito feliz e tire o melhor partido dele.




À eterna juventude!

O João é um homem generoso, de ideias convictas, com uma energia fabulosa, com bom gosto e sensibilidade. Como o seu signo refere que não gosta de bajulação aqui ficam os possíveis defeitos: poderá ser teimoso (mas qualquer ser exigente o é) e ainda, poderá não gostar de perder um debate, mas quem gosta?

Não sei qual é a fonte donde se abastece mas a água é excelente e fresca. :))

Conte-nos o seu segredo.

Mil parabéns.

Cortesia do Google (a sua Callas)

15/11/2015

A voz do mar

Nem o mar ao longe, nem as árvores serenas,
acalmaram a tarde de Outono, quebrada pela notícias francesas do atentado islâmico.



Foto de Thibault Camus/AP
Em honra das vítimas do atentado, Cafetaria Carillon, Paris

Homem se emociona diante de objetos de tributo deixados em frente à cafeteria Carillon, em Paris, onde um dos ataques terroristas ocorreu (Foto: Thibault Camus/AP)

O lançamento do livro de poesia : Não sei se o Vento de Rui Miguel Fragas, um amigo, na Biblioteca Municipal da Figueira da Foz.



A voz do mar 

pertence ao mar. E o  canto dos pássaros não te
pertence. Ouve os pássaros e ouve o mar e o vento
que sopra ao longe. Escuta os sinos da tua voz, lá
dentro do teu peito: há em tudo o que escutas

o mesmo rumor.

Mesmo que seja só uma promessa de sílaba uma
vogal apenas ou o rasto de uma vogal. Mesmo que
não chegue para dizer o teu nome, mesmo

que não chegue para me chamar.

O que está dentro do teu peito é mais do que tu: e o
que ouves é sempre mais

do que és capaz de dizer. A demora da luz e os
rituais da distância têm voz

mas não têm nome.

Só o rosário do silêncio me chama e ainda sou
capaz de ouvir as baleias do outro lado do mundo.
Só sei responder ao vento: por isso se me chamares

não te responderei.

Não queiras mais nada para além dessa sílaba
adiada, dessa vogal ou eco e do eco dessa vogal.

O teu nome é um nebuloso sussurro: vem de longe
e vai para longe, para lá de todas as luas de 
saturno. És uma invocação sem apelo.

não tens nome quando te chamo.

 Rui Miguel Fragas, Não sei se o Vento.Óbidos: Poética Edições, 2015, p. 61.

Na apresentação do livro, o Rui disse que o mundo é em si poesia.
Respondo só o é para quem a vê. Poucos são os que a vêem, perdoem-me a arrogância.
A escolha do poema inscreve-se no nome anónimo dos que morreram no atentado  em França. O mar é agora a sua liberdade, mas pagaram-na bem cara.

A minha homenagem às vítimas do atentado de sexta-feira 13 em Paris: que a vida não seja apenas as folhas mortas que caem...,
na voz de Yves Montant



14/11/2015

La Mer

(Por vezes não há fronteiras entre o mar e o céu a não ser uma linha ténue no horizonte. )


Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou. 

Clarice Lispector, A Hora da Estrela. Lisboa: Relógio de Água, 2002, p. 13.



11/11/2015

Castanhas trazem - a saudade

Castanhas em dia de S. Martinho. Tenho algumas saudades do magusto que se fazia quando andávamos na escola. A risada, a correria, a inconsciência e, talvez, também, a preocupação em não falhar ou a consciência da responsabilidade, mas acima de tudo, a brincadeira. As caras sujas de cinza, a bata suja, o ralhete da mãe, o cheiro a caruma, as castanhas boas e quentinhas, a festa da escola, sim porque era dia de festa na escola.


José Ferraz de Almeida Júnior, detalhe, Saudade, 1899
Pinacoteca do Estado de São Paulo
(Wikimédia)

Nunca fora capaz de lhe ensinar o significado da palavra saudade e, mesmo que o tivesse feito, isso de pouco lhe valia: a saudade não tinha sido inventada para falar de uma presença que nos recorda a ausência de um sentimento, mas para designar o lamento por uma perda que nenhum dos nossos sentidos pode, ainda que parcialmente, reconstruir.

António Mega Ferreira, A Blusa Romena. Lisboa: Sextante, 2008, p. 206.



08/11/2015

Numa tarde de sol

Numa tarde de sol veio parar-me à mão um livrinho por empréstimo que teve o condão de me maravilhar. 
Um livro com uma espiritualidade profunda que poderia pertencer a todas as religiões. Fez-me lembrar: Sidharta por causa de uma viagem, embora não tenha nada a ver com este livro. A relação foca-se na viagem dentro de nós. A viagem onde expurgamos os nossos ódios... onde temos a possibilidade de nos reencontrarmos.
O Senhor Ibrahim e as flores do Alcorão poderia ser não só a flor do Alcorão, mas também a flor do Cristianismo, a flor Hebraica, a flor de Buda - Lótus.


Imagem do livro: cortesia do google
Aquilo que tu dás, Momo, será teu para sempre; o que tu guardas perder-se-á para sempre!

Nem sempre podemos dar...

Eric- Emmanuel Schmitt, O Senhor Ibrahim e as flores do Alcorão. Queluz: Marcador, 2013, p. 40.



06/11/2015

A Ponte

Bridge Over Troubled Water


A Ponte

Vidraças que me separam 
Do vento fresco da tarde 
Num casulo de silêncio 
Onde os segredos e o ar 
São as traves duma ponte 
Que não paro de lançar 

Fica-se a ponte no espaço 
À espera de quem lá passe 
Que o motivo de ser ponte 
Se não pára a construção 
Vai muito mais a vontade 
De estarem onde não estão 

Vem a noite e o seu recado 
Sua negra natureza 
talvez a lua não falte 
Ou venha a chuva de estrelas 
Basta que o sono consinta 
A confiança de vê-las 

Amanhã o novo dia 
Se o merecer e me for dado 
Um outro pilar da ponte 
Cravado no fundo do mar 
Torna mais breve a distância 
Do que falta caminhar 

Há sempre um ponto de mira 
O mais comum horizonte 
Nunca as pontes lá chegaram 
Porque acaba o construtor 
Antes que a ponte se entronque 
Onde se acaba o transpor 

Sobre o vazio do mar 
Desfere o traço da ponte 
Vá na frente a construção 
Não perguntem de que serve 
Esta humana teimosia 
Que sobre a ponte se atreve 

Abro as vidraças por fim 
E todo o vento se esquece 
Nenhuma estrela caiu 
Nem a lua me ajudou 
Mas a ruiva madrugada 
Por trás da ponte aparece. 

José Saramago, Provavelmente Alegria. Alfragide: Caminho, 1985, p. 83.


Cada tempo tem a sua interpretação



03/11/2015

Para a Margarida

Para a Margarida um dia muito Feliz!
Parabéns com muita luz.


William Orpen, Sunlight, 1925, Leeds Art Gallery

A luz e a sombra brincam com a musa,
incandescem os olhos do pintor num atelier sem cavalete.

Columbano a quem a Margarida dedicou uma parte da sua vida. :))

02/11/2015

O rio corre... as folhas caem

O rio corre... as folhas caem.


Um passeio outonal pelo parque. Um dia tristonho porque o sol não apareceu.


Na noite de 31 de Outubro para 1 de Novembro cumpre-se a tradição do "bolinho", as crianças da vizinhança assaltam as casas mascarados e pedem guloseimas.
Nos dias de hoje, com a globalização, os costumes anglo-saxónicos invadem e generaliza-se o dia das bruxas, uma data para comemorar, mais um motivo para brincar.
Apesar de defensora acérrima da nossa cultura, pela primeira vez, quis surpreender as crianças que costumam bater à porta e fiz (emos) um adereço.
Comprei guloseimas e esperei... mas este ano não apareceram.


Dia 1 de Novembro, dia dos finados, dia de se prestar o culto aos nossos antepassados, morreu o cineasta português José Fonseca e Costa e assim partiu  mais um português, um homem das artes. .

A chuva traz a nostalgia, porém este monstrinho laranja faz-nos sorrir.

Boa noite. :))

Um filme de culto cá por casa.

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