30/09/2015

Momentos

Agatha Christie teria feito 125 anos a 15 de Setembro. 
Na altura não lhe prestei a devida homenagem.


Não reconhecemos os momentos realmente importantes da vida até ser demasiado tarde.
Agatha Christie 

 (retirado do Citador)


Miss Marple é a série que revi há pouco tempo e uma das personagens criadas pela escritora.
Os ambientes são sempre cuidadosamente recriados.


27/09/2015

Apesar de ser Outono

também pode haver luz


«Uma folha quando cai da árvore, não cai, dança. Devagarinho ela vai voando numa dança de adeus e alegria, a dança de roda das quatro estações. (…)»
-
Graça Vilhena, «Uma roda que não pára»

Viva o Outono!

Retirado de Memórias e Imagens


25/09/2015

"um verso basta"



No prato da balança um verso basta
para pesar no outro a minha vida.


Eugénio de Andrade, In Ofício de Paciência, (Banco de Poesia Casa Fernando Pessoa)

Variações em lá menor - João Bagão, por Quinteto de Coimbra


Guitarra portuguesa

 

22/09/2015

A Quarta Nota

O livro que comecei a ler para que a música faça parte do dia-a-dia.

Bom dia!

«Senhores Mestres da Música, a Itália já não ouve as excelentes vozes de tempos passados particularmente entre as mulheres e, para grande vergonha dos culpados, vou explicar porquê.»

Pier Francesco Tosi (castrado), Introdução à arte do canto,1723.


Musée des Beaux Arts, Nice

 Caravaggio, Os Músicos, c. 1595, (uma das versões) 
Metropolitan Museum of Art, New York,  retirado da Wikimedia Commons

File:The musicians by Caravaggio.jpg
***

«Cilindro 1

Roma, 10 de Junho de 1914

Chamo-me Moreschi, professor Alessandro Moreschi, até há 
pouco tempo soprano solista e, oficialmente, chefe dos coros da
Capela Sistina. Sou também um castrado, o último sobrevivente, 
ou quase,dessa grande família de cantores, agora 
esquecida mas que conheceu mais de dois séculos de glória em
palco e quase quatro à grandeza de Deus.


Era o parágrafo introdutório da enciclopédia que estava a preparar há mais de dois anos e que devia intitular-se Os Castrados e a Igreja. Título pretensioso, reconheço, mas apreciava a ressonância científica. Por muito tempo, fiquei admirado e também aborrecido por ninguém ter feito o favor de relatar num livro os nossos quatrocentos anos de história.»

Luc Leruth, A Quarta Nota. Tradução de Sandra Ribeiro, Lisboa:Temas e Debates, 2003, p. 9


19/09/2015

Recolhimento


Recolhimento


Voltar a casa é a maior viagem de todas.

Miguel  Esteves Cardoso no Público, 17-08-2015


Pierre Garand mais conhecido como Garou (Quasimodo) e Hélène Ségara (Esmeralda)

Notre-Dame de Paris  musicado e encenado por Richard Cocciante e adaptado por Luc Plamondon

17/09/2015

Conselho

Não posso fechar os olhos, tapar os ouvidos e calar a minha boca: 
- Europa que tristeza o que vives...

Desabrochar ou fechar como uma concha?



CONSELHO

Cerca de grandes muros quem te sonhas.
Depois, onde é visível o jardim
Através do portão de grade dada,
Põe quantas flores são as mais risonhas,
Para que te conheçam só assim.
Onde ninguém o vir não ponhas nada.

Faze canteiros como os que outros têm,
Onde os olhares possam entrever
O teu jardim como lho vais mostrar.
Mas onde és teu, e nunca o vê ninguém
Deixa as flores que vêm do chão crescer
E deixa as ervas naturais medrar.

Faze de ti um duplo ser guardado;
E que ninguém, que veja e fite, possa
Saber mais que um jardim de quem tu és —
Um jardim ostensivo e reservado,
Por trás do qual a flor nativa roça
A erva tão pobre que nem tu a vês...

s. d.

Fernando Pessoa, Poesias (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995), p. 242.


14/09/2015

Rebuçado - "UE"

Laurence Jenkell, Rebuçado, Cannes 
( 2 m de altura, escultura em alumínio, resina, e aço... )

Comemoração do encontro do G 20  a 3 e 4 Novembro de 2011, em Cannes.


Este rebuçado representa a União Europeia. Será assim tão doce?

(Foto minha)


Foto retirada do Nice- Matin a escultora junto à obra.
(http://www.nicematin.com/cannes/jenkell-offre-deux-sculptures-bonbons-a-cannes.1162103.html)

Vivemos num mundo conturbado e em convulsão.
O espírito económico mantém-se. O homem  precisa de projectos, ideais, humanismo 
e compreender o mundo que o rodeia...

Tanta evolução, tanto caminho e tão pouco aperfeiçoamento... :((

Boa noite/ Bom dia!

Cannes




11/09/2015

Ícones na arte contemporânea

Fotografia do trabalho de 
Diogo Muñoz, patente na Exposição Factotum que decorreu de 7 de Junho a 14 de Setembro de 2014 na Fundação Dom Luís, Centro Cultural de Cascais.

Diogo Muñoz, Audrey Hepburn, sd



«Já afirmado a nível internacional, Diogo Muñoz pode ser definido como um artista completo, capaz de dominar a pintura em todas as suas formas e géneros. Grande retratista e pintor hiper-realista ocasional, a arte de Diogo é ainda, e sobretudo, génio criativo.
Falar da sua obra é falar de um mundo à parte, de um universo quase literário, feito de protagonistas e figurantes, de cor, imagens e símbolos, que remetem tanto à realidade histórica como ao imaginário colectivo, tanto à memória como à criatividade pura do artista. Aquela de Diogo Muñoz é uma pintura culta, refinada e extremamente atenta a todos os detalhes. A sua maturidade artística é facilmente reconhecível quer no seu virtuosismo pictórico que consente que jogue com ilusões hiper-realistas dignas de um mestre tardo-barroco -seja na fantasia inventiva, através da qual dá sinal de uma liberdade intelectual e expressiva, que torna a sua arte única e fortemente reconhecível.
Na sua produção mais recente Diogo desenvolveu um percurso de procura, que o levou a atingir um repertório de temáticas e imagens que remetem à cultura Pop assim como a ícones da história da arte. É aqui que, no espaço da tela, se sucedem cenários e personagens que trasladados da realidade histórica entram no presente da tela, no presente do pintor. Mestres do passado como Velasquez e Picasso dialogam com os ícones pop do nosso tempo, aqueles da BD e das revistas ilustradas, criando um vórtice temporal no qual a cultura alta se mescla com aquela das massas, da televisão, do espectáculo, gerando um "pastiche" de anacronismos imagéticos.»

Florença, Setembro de 2012
Giada Rodani, curadora e crítica de arte. [Retirado de um panfleto da exposição].

Audrey foi sempre um ícone para mim, quer no que diz respeito à elegância quer como ser humano, este último reforçado com o desempenho de embaixadora (*) da Unicef.

Um momento delicioso.


* Cargo que exerceu a partir de 1987.

09/09/2015

Um encontro com Renoir

Depois de ter visto o filme de Gilles Bourdos: "Renoir" sobre Pierre Auguste Renoir tive vontade de conhecer a casa onde ele viveu os últimos anos de vida. Foi, pois, com emoção que visitei a propriedade, tentando imaginar quanto possível a vivência de um dos mentores do impressionismo.

Na subida... ao encontro de Renoir 
- Casa - Museu Pierre Auguste Renoir, Cagnes - Sur- Mer ou Domaine des Collettes

A flora é luxuriante. O azul do mar no horizonte enche os olhos e apazigua a alma. A paisagem humana é diferente da do início do século XX, tal como, provavelmente, parte de algumas plantas mas dá para nos encontrarmos com o ambiente em que o pintor viveu e com as cores que conviveu. Encontramos as  oliveiras centenárias e os caminhos sinuosos.

Mais próximo da casa de Renoir, ela recebe-nos de portas e janelas abertas


Renoir, Coco lising, 1905;  Cópia de Albert André, La petite fille au cerceau de P.A. Renoir
Casa-museu Renoir, Caignes Sur Mer 


A sala de jantar e a sala de estar. Não sei se estaria assim quando Renoir a habitava mas tem muitas fotografias que testemunham o seu quotidiano.


O mar, as cores, os cheiros eram provavelmente ingredientes para os temas escolhidos.


A cozinha

O atelier foi a sala que mais me emocionou.

Perspectiva do quarto de Renoir




A cadeira onde era transportado para o atelier do jardim

Pierre-Auguste Renoir. Natureza Morta. (sd)





O atelier no jardim

Escultura de Renoir representando Aline, sua mulher.

Filme apresentado em Cannes.

06/09/2015

Hino à Vida...

A chegada constante de refugiados, a morte de crianças e adultos, a destruição de escolas, as guerras, a fome, a falta de liberdade e tanta violência em nome do poder económico, político e religioso, torna o homem do começo do século XXI tão parecido ao homem do início do século XX e dos seus ancestrais. 
Qual foi a evolução? O que se aprendeu com o passado? 
Nada...

Renoir esculpiu um hino à vida. Um hino que me reconfortou quando visitei a sua 
casa-museu em Cagnes-Sur-Mer.

Pierre Auguste Renoir e Richard Guino -  Modelo de pêndulo: Hino à Vida 
Gesso com patine

Entrada para a Casa-Museu de Pierre Auguste Renoir em Cagnes-Sur-Mer
(Daqui ainda não se avista a casa)



04/09/2015

Recanto lá fora

Recanto lá fora

FIGURAS SEM IMAGEM

Ah sim, haver aqui esta dificuldade em não saber
onde fica a saída; ter de bater às portas para ouvir
quem responde, e ninguém a dizer quem é,
ou subir aos vidros da janela para espreitar o outro
lado, e cair da escada. O melhor, dizes, é sentares-te
à mesa de operações, riscar o caderno com a 
matemática do sonho, e fazer a prova até veres
se tudo está certo; depois voltas ao princípio
para te convenceres de que só está certo o que
tem um princípio errado, como a direcção que
seguiste no corredor, e que não emendaste quando
percebeste que, no fim, só um rosto te espreita,
e é o teu. "O meu?", perguntas; sim, esse
que ali deixaste quando o Outono começou a cair,
e não o apanhaste do chão, onde começou a
apodrecer com as folhas; ou esse que procuraste
num espelho em que te disseram que o podias
encontrar, e quando olhaste a imagem passou
para o outro lado, e perdeu-se na transparência
do vidro. Ah, fossem esses todos os problemas!
Não houvesse um espelho no fundo do corredor,
ou tivesse o Outono ficado no céu, de onde nunca
devia ter saído - e a tua vida teria sido outra. Mas
que farias de ti? quantas lembranças irias somar

Nuno Júdice, A Matéria do Poema. Lisboa: Dom Quixote, 2008, p. 131



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