29/11/2013

Banco Alimentar - "Não basta abrir a janela"

«Em 2003, os bancos alimentares apoiavam 189.152 pessoas, número que subiu para 418.881 em 2012 (+114%), adiantam os dados da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares (FPBA) divulgados à agência Lusa, a propósito de campanha de recolha de alimentos em supermercados, que decorre no próximo fim de semana
 Jornal i

No próximo fim de semana vai haver recolha de alimentos nas grandes superfícies. O ano anterior apesar da crise chegar a todos houve um contributo assinalável. Os portugueses são generosos. Aqui fica a notícia.

Bartolome Esteban Murillo, Thomas of Villanova giving alms to the poors 1678 , 
Museo de Bellas Artes de Sevilha
Thomas of Villanova giving alms to the poors - Bartolome Esteban Murillo

Oswaldo Guayasamin (1919 - 1999) - Manos de Hambre (Hands of Hunger).
Oswaldo Guayasamin (1919 - 1999) - Manos de Hambre (Hands of Hunger).
Click image to view full size.
From the series: ‘Las Manos’ (Hands) in which the painter focused on peoples hands to show different emotions.
De la serie: ‘Las Manos’, en la cual el pintor se centró en la utilización de manos de personas para mostrar diferentes emociones.

Não basta abrir a janela
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
4-1923
Alberto Caeiro “Poemas Inconjuntos” (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993).
 p. 75.  
1ª publ. in “Poemas Inconjuntos”. In Athena, nº 5. Lisboa: Fev. 1925.

27/11/2013

Sinal vermelho

A economia deve ser gerida pelo Direito e a política pela ética
Ramalho Eanes, 25-11-2013.

Sinal vermelho para os nossos governantes (Lisboa, 2012)

O fado de ser português...

Traça a reta e a curva

Traça a reta e a curva, 
a quebrada e a sinuosa
Tudo é preciso. De tudo viverás.

Cuida com exatidão da perpendicular
e das paralelas perfeitas.
Com apurado rigor.
Sem esquadro, sem nível, sem fio de prumo,
traçarás perspectivas, projetarás estruturas.
Número, ritmo, distância, dimensão.
Tens os teus olhos, o teu pulso, a tua memória.

Construirás os labirintos impermanentes
que sucessivamente habitarás.

Todos os dias estarás refazendo o teu desenho.
Não te fatigues logo. Tens trabalho para toda a vida.
E nem para o teu sepulcro terás a medida certa.

Somos sempre um pouco menos do que pensávamos.
Raramente, um pouco mais.

Cecília Meireles in Poesia Brasileira do Século XX, Dos Modernistas à Actualidade
(seleção, introdução e notas Jorge Henrique Bastos). Lisboa: Antígona [daqui]

Uma versão do Lamento de Dido [Purcell]

25/11/2013

Portugal em tamanho pequeno

Uma casa de Raúl Lino em tamanho pequeno


Nesta casa portuguesa está uma máxima que hoje  se pode questionar. Dá vontade de perguntar porquê o desemprego, a crise, a fome e a solidão?


Janelas abertas I

Janelas abertas II

Barbie foi a exposição que me levou ao Portugal dos Pequenitos. Trezentas bonecas foram generosamente oferecidas por Ana Salazar Silva e  e Ana Sofia Ferreira dos Santos a este parque ludo-pedagógico da Fundação Bissaya Barreto. A exposição divide-se em vários temas, a Barbie pelo mundo à Barbie e o cinema ou a Barbie e as eras Históricas... Um sonho de exposição para todos, pequenos e grandes. O Professor Bissaya Barreto foi o mentor deste projeto: Portugal em pequenino, Cassiano Branco, o arquiteto que  o executou. 

Scarlet O'Hara, E Tudo o Vento Levou

Para o Pedro, a nossa Universidade. :))

23/11/2013

O Homem do Momento...

O Homem do Momento em Milão



"Só é lutador quem sabe lutar consigo mesmo." 
Carlos Drumond de Andrade (citador)

21/11/2013

Na Biblioteca Nacional

O encantamento dos livros iluminados levou-me à exposição Livros de Horas: o imagnário da devoção privada, patente na Biblioteca Nacional de Portugal. Uma sugestão que aqui deixo e que poderá visitar até ao dia 16 de Fevereiro.

Livro de Horas: Virgem do Leite

Os Livros de Horas são livros de devoção cristã para leigos com orações indicadas para diferentes momentos do dia. Estes livros foram criados para facilitar a comunhão com Deus e os santos sem a intervenção direta do clero (devoção privada). Contêm uma coleção de textos, orações e salmos, acompanhado de ilustrações apropriadas. Junto com as seleções dos salmos, eles normalmente incluem um calendário de grandes festas e dias santos, seleções dos Evangelhos e orações para os mortos.  Deste modo, o Livro de Horas servia como conteúdo de leitura litúrgica para determinados horários do dia. Encontram-se entre os manuscritos medievais mais belos e ricamente ilustrados. Enquanto alguns famosos são bastante grandes, a maioria é relativamente pequena para permitir que o proprietário os transportasse facilmente.

O imaginário dos Livros de Horas combina imagens sagradas, 
com evocações do quotidiano medieval e do mundo natural. 
Flores, frutos e animais reais e imaginários ocupam as iniciais 
ou deslizam pelas margens em explosões de cor e criatividade. 
Como um espelho, o Livro de Horas é um reflexo do seu encomendador 
 e uma extraordinária fonte de conhecimento e arte. 

Autor Frei Carlos, Oficina do Espinheiro, 1518 a 1525 *


Reprodução do MNAA. Pintura a óleo e tempera sobre madeira de carvalho, 30 x 22 cm. Proveniência Mosteiro do Espinheiro (Évora). Mosteiro de Santa Maria de Belém (Lisboa).

18/11/2013

Áureo - um enigma para mim...

O número de ouro ou as divinas proporções são para mim um enigma. Já admirei inúmeras vezes os seus resultados mas continua a ser um desafio. Quedei-me nesta questão ao pensar na perfeição.

A Perfeição
O que me tranquiliza é que tudo o que existe, existe com uma precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete. Tudo o que existe é de uma grande exatidão. Pena é que a maior parte do que existe com essa exatidão nos é tecnicamente invisível. Apesar da verdade ser exata e clara em si própria, quando chega até nós se torna vaga pois é tecnicamente invisível. O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas. Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição. 
 Clarice Lispector, in A Descoberta do Mundo (Citador)

Em Busca da Beleza


Soam vãos, dolorido epicurista, 
Os versos teus, que a minha dor despreza; 
Já tive a alma sem descrença presa 
Desse teu sonho, que perturba a vista. 

Da Perfeição segui em vã conquista, 
Mas vi depressa, já sem a alma acesa, 
Que a própria idéia em nós dessa beleza 
Um infinito de nós mesmos dista. 

Nem à nossa alma definir podemos 
A Perfeição em cuja estrada a vida, 
Achando-a intérmina, a chorar perdemos. 

O mar tem fim, o céu talvez o tenha,
Mas não a ânsia da Coisa indefinida 
Que o ser indefinida faz tamanha. 


Fernando Pessoa, in "Cancioneiro" (Citador)

Leonardo Da Vinci, O Homem do Vitrúvio, 1485-1490, Galleria dell' Accademia, Veneza. Daqui
File:Da Vinci Vitruve Luc Viatour.jpg

\varphi = \frac{1 + \sqrt{5}}{2} \approx 1,61803398874989...

En 1509 el matemático y teólogo Luca Pacioli publicó De Divina Proportione (La Divina Proporción), donde plantea cinco razones por las que estima apropiado considerar divino al número áureo: La unicidad; Pacioli compara el valor único del número áureo con la unicidad de Dios. El hecho de que esté definido por tres segmentos de recta, Pacioli lo asocia con la Trinidad. La inconmensurabilidad; para Pacioli la inconmensurabilidad del número áureo y la inconmensurabilidad de Dios son equivalentes. La autosimilaridad asociada al número áureo; Pacioli la compara con la omnipresencia e invariabilidad de Dios. Según Pacioli, de la misma manera en que Dios dio ser al Universo a través de la quinta esencia, representada por el dodecaedro; el número áureo dio ser al dodecaedro. (Retirado da página acima assinalada)

 “La geometría tiene dos grandes tesoros: uno es el teorema de Pitágoras; el otro, la división de una línea entre el extremo y su proporcional. El primero lo podemos comparar a una medida de oro; el segundo lo debemos denominar una joya preciosa”
Johannes Kepler en Mysterium Cosmographicum (El Misterio Cósmico).

Albrecht Dürer  (cortesia google em pdf)

En 1525, Alberto Durero publicó Instrucción sobre la medida con regla y compás de figuras planas y sólidas donde describe cómo trazar con regla y compás la espiral áurea basada en la sección áurea, que se conoce como “espiral de Durero”.

Jacopo dei Barbari Luca Pacioli e o duque de Guidobal, depois de 1516, 
Museu de Capodimonte,  Nápoles (Commons Wikimedia)
File:Jacopo de' Barbari - Portrait of Fra Luca Pacioli and an Unknown Young Man - WGA1269.jpg


16/11/2013

Para o João Menéres

Parabéns, João.
Um dia muito feliz. :)
Aqui com Robert Doisneau e Henri Cartier-Bresson


«Se ao fazer um retrato, o que se espera é captar o silêncio interior de uma vítima anuente, é muito difícil introduzir-lhe a máquina fotográfica entre a camisa e a pele...»
18-1-1996

Henri Cartier-Bresson, in O imaginário segundo a natureza. Barcelona: Editorial  Gustavo Gili, 2004, (Tradução de Renato Aguiar) p. 95.

Robert Doisneau, Danse, Serge Lifar, 1944 (link)*


João Menéres Ballet, 1 de Agosto de 2012 (Grifo Planante)

Robert Doisneau, Danseuse, 1950 *


Henri Cartier-Bresson fotografia retirada daqui.
(www.henricartierbresson.org)


15/11/2013

La Plaza...

Praça do Obradoiro, Santiago de Compostela


“La plaza tiene una torre,
la torre tiene un balcón,
el balcón tiene una dama,
la dama una blanca flor.
Ha pasado un caballero
-¡quién sabe por qué pasó!-
y se ha llevado la plaza,
con su torre y su balcón,
con su balcón y su dama,
su dama y su blanca flor”

António Machado, Cancioneiro Apócrifo

Una Furtiva Lagrima, ária revisitada

14/11/2013

Os olhos...


Detalhe, Madonna and Child, 1907-1908 by Marianne Stokes, Wolverhampton Art Gallery

Os olhos devem ser tratados com cuidado. devemos pensar para onde os apontamos e quando. Toda a nossa vida jorra dos nossos olhos, eles podem, portanto, ser canhões, música, canto de pássaros, gritos de guerra. Podem revelar-nos, podem salvar-nos, destruir-nos. Vi os teus olhos e a minha vida mudou. Os olhos dela assustam. Os dele hipnotizam-me. Olha só para mim, então tudo ficará bem e eu talvez consiga dormir. Histórias antigas, possivelmente tão antigas quanto a humanidade, dizem-nos que não há um único ser que consiga olhar nos olhos de Deus porque eles contêm a fonte da vida e o abismo da morte.

Jón Kalman Stefásson, Paraíso e Inferno. Lisboa: Cavalo de Ferro, (Tradução de João Reis), 2013, p. 163.

Piero della Francesca: detail, Montefeltro altarpiece daqui
Piero della Francesca: detail, Montefeltro altarpiece

Paraíso e Inferno é um livro de Jón Stefásson, autor vencedor dos prémios Icelandic Literature Prize e P.O. Enquist Award 2011.

Li pela primeira vez literatura islandesa e  devo dizer que me fascinou. O mar, sempre o mar a ditar a sua liberdade e a sua prisão. Um livro que toca o ser-se português. Recomendo vivamente. Hoje (já ontem), reler este trecho trouxe-me paz.

Le Monde resume-o desta maneira: 
«É tal como um profundo suspiro vindo das profundezas do mar.»

Dagbladet foca-o deste modo:
«Comparável a clássicos como Moby Dick e O Velho e o Mar

12/11/2013

Faróis distantes


Faróis distantes,
Faróis distantes,
De luz subitamente tão acesa,
De noite e ausência tão rapidamente volvida,
Na noite, no convés, que consequências aflitas!
Mágoa última dos despedidos,
Ficção de pensar...
Faróis distantes...
Incerteza da vida...
Voltou crescendo a luz acesa avançadamente,
No acaso do olhar perdido...
Faróis distantes...
A vida de nada serve...
Pensar na vida de nada serve...
Pensar de pensar na vida de nada serve...
Vamos para longe e a luz que vem grande vem menos grande.
Faróis distantes...

30-4-1926
Álvaro de Campos,  PoesiasLisboa: Ática, 1944 (imp. 1993), p. 26.

10/11/2013

C’est pas des morts qu’il faut avoir peur, c’est des vivants...

As crianças de Paris, título original, La Rafle, é um filme de Roselyn Bosch com Jean Reno e Melanie Laurent. Retrata a rusga de famílias judaicas que viviam em Montmartre e o campo de passagem de Beaune-la-Rolande, onde estiveram crianças, separadas dos pais, até desaparecerem na bruma dos dias.

John Singer Sargent, Village Children, 1890 (wikimedia commons)
File:Village Children by John Singer Sargent 1890.jpeg
Yale University Art Gallery, Edwin Austin Abbey Memorial Collection

C’est pas des morts qu’il faut avoir peur, c’est des vivants... 
La rafle, Joseph Weismann (Hugo Laverdez).


08/11/2013

A liberdade mede-se nas palavras e a magia na água...

A magia na água


Um écran é o motor estimulante do pensamento. Dos lábios saem guerras inúteis e palavras mordazes... A luz e a sombra, ou a luminosidade e as trevas, que importa?
O acaso, ou o caos, desequilibra a harmonia: surge o eco, num destino não combinado. A discussão cai no vazio porque só prevalece uma ideia. De que serve então o estímulo? Ou a reflexão?
A liberdade é estrangulada, está metida num contador, na primeira gaveta, na segunda, ou na décima terceira. Não interessa é um número que não tem rosto. É fácil meter numa gaveta uma corrente fabricada ao sabor do acaso cujos elos se desgastam e partem...
A liberdade mede-se nas palavras e a magia na água.


05/11/2013

Da lucidez...

Giorgio De Chirico, Composição Metafísica, 1914. Vendido pela Christie's Daqui

Teremos de descer até ao fundo da lava
E sentir a frigidez da sombra que está no fundo de tudo
Teremos então num incerto vaivém
De subir e descer e do abismo ao solo solar
Da lucidez inebriante à viscosa agonia
Tecer a intermédia melodia da ascensão e da queda
Na sucessão dos instantes na sequência das palavras
Para que possamos viver no equilíbrio ténue
Como numa torre transparente mas de obscuros veios
E consagrar o luminoso mercúrio
Que liga a cinza futura e já pretérita
À ingénua insurreição da nossa inocência original


António Ramos Rosa e Robert Bréchon, Meditações Metapoéticas / Méditations Métapoétiques. Lisboa: Caminho, 2003, p. 94.

03/11/2013

Parabéns Margarida


Parabéns Margarida.                                  Menez (1926-1995), Duas Figuras Femininas, 1988
Um dia muito feliz, rodeada de arte. 

O Objectivo da Arte não é Ser Compreensível. Toda a arte é expressão de qualquer fenómeno psíquico. A arte, portanto, consiste na adequação, tão exacta quanto caiba na competência artística do fautor, da expressão à cousa que quer exprimir. De onde se deduz que todos os estilos são admissíveis, e que não há estilo simples nem complexo, nem estilo estranho nem vulgar. Há ideias vulgares e ideias elevadas, há sensações simples e sensações complexas; e há criaturas que só têm ideias vulgares, e criaturas que muitas vezes têm ideias elevadas. Conforme a ideia, o estilo, a expressão. Não há para a arte critério exterior. O fim da arte não é ser compreensível, porque a arte não é a propaganda política ou imoral. 

Fernando Pessoa, in 'Sobre «Orpheu», Sensacionismo e Paùlismo' (citador)

Telas expostas na exposição 100 Anos de Arte Portuguesa nos 100 anos de Comemoração do Museu Machado de Castro (arte partilhada do Millennium), MNMC, Coimbra

Triptíco de António Charrua (1925-2008), intitulo-o: A Porta


Eduardo Luiz (1932-1988), Morte de Rembrandt, 1985


Porque sei que também gosta. :)

02/11/2013

Bolas de sabão ou "Flores de espuma"


Com flores 
de espuma
é que o mar se perfuma.

Albano Martins, Assim São as Algas, Poesia 1950-2000. Porto: Campo das letras, 2000, p. 256.


Arquivo