29/06/2013

"Assim Jesus chorou sobre a cidade"

Arte popular e erudita. Cristo de Júlia Ramalho. Cópia de uma Cruz de joalharia portuguesa.


Soneto de Confissão 

Assim Jesus chorou sobre a cidade. 
Não por pieguice: por viril afeto, 
ao encontrar, em vez de caridade, 
a tentação debaixo do seu teto.

Era apenas um homem que chorava 
- um homem que chorava em frente aos mais - 
por ver que seu amor mal se escutava 
como a conversa à-toa dos pardais. 

Esse pecado estéril, desatento, 
a recusa de Deus como um jornal 
lido às carreiras e atirado ao vento, 

disfarça as formas sob a chama fria 
e põe, no mais amargo da minha alma, 
o cansaço da humana companhia. 


Odylo Costa, filho* (1914 – 1979) , in Antologia de Poesia Cristã em Língua Portuguesa, ebook, (organização Sammis Reachers), p. 113.

 [*Poeta, novelista, jornalista e cronista brasileiro, membro da Academia Brasileira].


 

28/06/2013

Creio...

Anjo?  Dónath Gyula (1850-1909)
Galeria Nacional de Buda, Budapeste

Creio nos Anjos que Andam pelo Mundo

Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na Deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen.

Natália Correia in Os Poemas da Minha Vida, escolha de António Ramalho Eanes, Ed: público Lisboa, p. 94.

  

26/06/2013

Modigliani "Rome is not outside me..."

Modigliani de Mick Davis é um filme que merece um registo. Retrata um grupo de intelectuais de vanguarda, residente em Paris, à procura do sentido da vida. Andy Garcia encarna o papel de Amadeo Modigliani, um pintor sem dúvida italiano, como ele mesmo assume na seguinte citação:

(...) Enquanto falo contigo, Roma não está lá fora, mas dentro de mim, como jóia terrível encastoada nas suas sete colinas, em sete ideias imperiosas.Roma é a orquestração que me envolve, a arena circunscrita em que me isolo e em que concentro os meus pensamentos. A sua suavidade febril, os seus campos trágicos, a sua beleza e harmonia, tudo isso é meu, pertence aos meus pensamentos e à minha obra.*
Carta para Oscar Ghiglia


"Modigliani representa o protótipo do artista que executa a sua obra nos estúdios sórdidos de  Mmontmartre e de Monparnasse, afundado em álcool, haxixe, amor e poesia".

Doris Krystof, Modigliani. Colónia: Taschen, 2000, p.7,*10,

Amadeo Modigliani, auto-retrato, 1919,
Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, Brasil
(Wikimedia Commons)
File:Modigliani-autoretrato-macusp1.jpg

Jeanne Hébuterne, Retrato de Modigliani (mas poderá ser um auto-retrato?)
(daqui)
Ficheiro:Modibyjeanne.jpg

Modigliani, Jeanne 1918, coleção privada
(Wikimedia Commons)
File:Porträt der Jeanne Hébuterne, Amedeo Modigliani.jpg

No Salão dos Artistas


Chaïm Soutine (1893-1943), Carcaça
Chaim Soutine Carcass of Beef Circa 1925. oil on canvas, 55-1/4 x 42-3/8 inches

Moïse Kisling (1891-1953), Medo

Maurice Utrillo (1883-1955), Loucura

Pablo Picasso (1881-1973), detalhe de Modigliani daqui

Modigliani, Jeanne, no vídeo.

23/06/2013

Viagens...

Hieronymus Bosch, detalhe de O Jardim das Delícias,(1480-1505) painel central, Museu do Prado
(Wikipedia)*
File:Hieronymus Bosch - The Garden of Earthly Delights - Prado in Google Earth-x2-y1.jpg


Formou Deus o homem, e pôs num paraíso de delícias; tornou a formá-lo a sociedade, e o pôs num inferno de tolices.
O homem - não o homem que Deus fez, mas o homem que a sociedade tem contrafeito, apertando e forçando, em seus moldes de ferro, aquela pasta de limo que no paraíso terreal se afeiçoara  à imagem da divindade-, o homem, assim, aleijado como nós o conhecemos, é o animal mais absurdo, mais disparatado e incongruente que habita na Terra.

Almeida Garret, Viagens na Minha Terra. Circulo de Leitores, 1987, p. 123.

Detalhe do volante direito do Jardim das Delícias*
File:Hieronymus Bosch - The Garden of Earthly Delights - Prado in Google Earth-x4-y1.jpg

No blogue de Lídia Borges, Searas de Versos, li um trecho do livro de Saramago, A Viagem a Portugal.  A leitura levou-me a procurar o livro na Biblioteca Municipal. 
Eis que ao folheá-lo, na primeira página que antecede o índice, li a dedicatória:
A quem me abriu as portas e mostrou caminhos
- e também em lembrança de Almeida Garret,
mestre de viajantes.

Estando na biblioteca, logo procurei o livro de Garret que li há alguns anos. Numa leitura transversal deparei-me com o trecho que transcrevi. Olhei para o horizonte, para todos os que se deixam corromper quer na política, quer numa outra atividade, e faça-se jus a Garret que magistralmente descreve a natureza humana.
Não pude deixar de sorrir, ao olhar para trás, e aperceber-me que não dei a importância que as Viagens na Minha Terra merecem. O brilhantismo académico, o humanismo e a eloquência são apanágio do grande escritor.

Quanto a Saramago, a sua Viagem a Portugal prende a nossa atenção. Pegamos na mochila, na máquina fotográfica e cada momento retratado na escrita transforma-se em realidade. Não supera Garret, nem é essa a intenção, a singularidade de cada escritor marca a sua genialidade.

Pátio das Escolas, Universidade de Coimbra

Fotografia retirada da Wikipedia
File:Universitat de Coïmbra - Sala d'actes.JPG

Enfim, esta é a Universidade de Coimbra, donde muito terá vindo de Portugal, mas onde algum mal se preparou. O viajante não vai entrar, focará sem saber que jeito tem a Sala dos Actos Grandes e como é por dentro a Capela de São Miguel. O viajante às vezes é tímido. Vê-se ali, no Pátio das Escolas, rodeado de ciência por todos os lados, e não ousou ir bater às portas, pedir esmola de um silogismo ou um livre-transito para os Gerais. Junte-se  a esta cobardia a convicção profunda eem que está o viajante de que a universidade não é Coimbra, e perceber-se-á por que a este Pátio das Escolas se limita a dar a volta, sem gosto pelas estátuas da Justiça e  daFortaleza que o Laprade armou na Via Latina, mas de gosto rendido diante do portal manuelino da Capela de São Miguel, e tendo entrado pela Porta Férrea por ela tornou a sair.

José Saramago, Viagem a Portugal. Lisboa: Caminho, 1995 (11ª edição), p. 137.

A Universidade de Coimbra foi consagrada pela UNESCO Património Mundial [para nossa alegria].

22/06/2013

"Coro illustre de Sabios"

O meu agradecimento ao amigo João Menéres que sabe desta minha paixão, .


HE PERSEGUIDO EM
seus escritos
CLXII Hum Coro illustre de Sabios recebe aqui, como companheiro de sua fortuna, ao sapientissimo Vieyra. Não escapárão á maledicencia os mayores homens do Mundo. Aquellas óbras cheyas de luz, parto felices de engenhos sublimes, quiz a inveja offuscálas, e o ódio deprimillas. Padeceo esta tormenta S. Jeronymo, e em tanto gráo, que quiz retrahir a sua penna, fechando todas as azas o Serafim, e não voar mais, para evitar inimigos. Chegava nesta tempestade a exclamar: Domine, libera animam meam à labiis iniquis, à lingua dolosa. Padeceo-a Santo Agostinho, Aguia dos Doutores, a quem não só fizerão tiro os Hereges, senão tambem muitos Bispos Catholicos em França, os quaes Celestino Papa I sevéra, e fortemente refreou.

Trecho retirado do fl. 602. do livro do padre André de Barros sobre a Vida de Padre António Vieira.



20/06/2013

Herberto Helder através de Yvette Centeno

À medida que caminho o meu rio é cada vez mais sinuoso. Pergunto-me porquê?

***
Detalhe da aguarela  de Blake, The River of Life
Mexo a boca, mexo os dedos, mexo
a ideia da experiência.
Não mexo no arrependimento
pois que o corpo é interno e externo
do seu corpo.
Não tenho inocência, mas o dom
de toda uma inocência.
E lentidão ou harmonia.
Poesia sem perdão ou esquecimento.
Idade de poesia.

Herberto Helder  na folha de rosto de OFÍCIO CANTANTE (1953-1963) edição da antiga Portugália Editora. [Retirado do blogue Literatura e Arte cujo link assinalo no final].

Porque o mote que escolhi para o (IN)Cultura é "o que é ser rio e correr / o que é está-lo eu a ver". veja-se:

«Não se esconde aqui [no verso de Herberto Helder] o ser e não ser de um Fernando Pessoa, na plena consciência do que se é não é: " o corpo é interno e externo do seu corpo".Podia este verso ser remetido para o de Pessoa, em frente ao rio, e que Eduardo Lourenço tanto nos deu a ler, quando voltou a Portugal em 1974-1975, para um Seminário da Universidade Nova: " o que é ser rio e correr / o que é está-lo eu a ver"...(in ALÉM_DEUS). Aqui se reflectia sobre a questão do despertar da consciência de si, através da contemplação do mundo (era o rio, mas podia ser "o outro", o outro nele, o do permanente que se revelava do lado de lá das coisas e dos seres, e do eu em si mesmo.»

Yvette Centeno in Literatura e Arte

E ainda... porque ligo este mote a uma aguarela de Blake volto a colocar a sua imagem.

William Blake, The River of Life, c. 1805, Tate Britain, Londres


18/06/2013

Mulher

Rossio, Mulher: solidão e generosidade



Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?

Cecília Meireles

16/06/2013

Histórias de Telavive, histórias de amizade

Porquê esta tela?
Porque o pintor não teve oportunidade de ir para Telavive...

Félix Nussbaum, Dreierporträt, (1944)
Daqui

Félix Nussbaum nasceu em Osnabrück em 1904 e morreu em Auschwitz em 1944.


Ao Manuel Poppe agradeço a ternura com que o ouvi falar para um conjunto de jovens. 


"...a fazer o que nunca fizera: a coleccionar pintura e antiguidades. De início, porque abriu uma pequena loja em Verona, da qual se ocupava a mulher do filho mais velho, Rosalinda, estudante de Belas-Artes, e dessa maneira ajudava o marido, Gustavo o menos ambicioso. "Um sonhador...", desculpava-o Glória ... E explicava: " Era o meu velho sonho! O Roberto é que nunca me deixou gastar dinheiro em coisas destas... Só havia dinheiro para o que ele queria... A arte não era o seu género, como sabes...". 
Manuel Poppe, página 39 do livro identificado.

Histórias de Mulheres de Maria João Falcão são contos que narram o que o título sugere: histórias de mulheres que partilham afectos, vivências e  amizade.



"Em Telavive, tudo é muito rápido. O efémero ronda por ali e a efemeridade das coisas, dos lugares e das pessoas sente-se mais. E também os cafés abrem e fecham, mudam, renovam-se enquanto as pessoas vão e vêm.
Ao contrário de Jerusalém, que tem o peso de várias culturas e religiões, o ritmo é outro, lento, e, por vezes meditativo." 
Maria João Falcão, Histórias de Mulheres (s/nº página)

Ao Manuel e à Maria João,
Grata pela partilha sobre Israel, mais propriamente Telavive, pois preencheram as muitas lacunas que tenho sobre aquela cultura. 

15/06/2013

Escuta

Henri de Miller, L'Écoute, 1986, Place René Cassin, Paris 
(frente à igreja de Santo Eustácio, próximo de Les Halles)



O silêncio 
faz soar fundo na alma 
palavras mudas. 

Tam Huyen Van, O Bosque de Bambus, Coletânea de Poesias Haiku Zen. Rio de Janeiro: Cláudio Miklos, 2007 (1ª edição), p. 36.

.

12/06/2013

"Caro desempregado" - A arte e o desemprego

A Arte e o desemprego, um grito através da tela e da escrita.

Max Ginsburg, Unemployed On line


Max Ginsburg, Foreclosure, 2011
Daqui


Max Ginsburg nasceu em Paris, em 1931. 
Estudou nas seguintes escolas superiores de arte: High School of Music and Art, New York (1945-1949), Syracuse University, Syracuse, NY, BFA (1949-1953); City College of New York, New York, MA (1960-1963). 
Ensinou nas seguintes instituições: High School of Art and Design, New York, (1960 -1982) School of Visual Arts, New York, (1984 -2000) Art Students League, New York, (1997-2000; 2008-2011)[Cortesia do google] 

Recebi, via e-mail, a carta de Ricardo Araújo Pereira. Já deve andar na blogosfera, twitter e facebook, mas dada a pertinência do tema, aqui está uma parte da mesma missiva para os 19%.

Carta aos 19%
Caro desempregado, 
Em nome de Portugal, gostaria de agradecer o teu contributo para o sucesso económico do nosso país. Portugal tem tido um desempenho exemplar, e o ajustamento está a ser muito bem-sucedido, o que não seria possível sem a tua presença permanente na fila para o centro de emprego. Está a ser feito um enorme esforço para que Portugal recupere a confiança dos mercados e, pelos vistos, os mercados só confiam em Portugal se tu não puderes trabalhar. O teu desemprego, embora possa ser ligeiramente desagradável para ti, é medicinal para a nossa economia. Os investidores não apostam no nosso país se souberem que tu arranjaste emprego. Preferem emprestar dinheiro a pessoas desempregadas. Antigamente, estávamos todos a viver acima das nossas possibilidades. Agora estamos só a viver, o que aparentemente continua a estar acima das nossas possibilidades. Começamos a perceber que as nossas necessidades estão acima das nossas possibilidades. A tua necessidade de arranjar um emprego está muito acima das tuas possibilidades. É possível que a tua necessidade de comer também esteja. Tens de pagar impostos acima das tuas possibilidades para poderes viver abaixo das tuas necessidades. Viver mal é caríssimo.Não estás sozinho. O governo prepara-se para propor rescisões amigáveis a milhares de funcionários públicos. Vais ter companhia. Segundo o primeiro-ministro, as rescisões não são despedimentos, são janelas de oportunidade. O melhor é agasalhares-te bem, porque o governo tem aberto tantas janelas de oportunidade que se torna difícil evitar as correntes de ar de oportunidade. Há quem sinta a tentação de se abeirar de uma destas janelas de oportunidade e de se atirar cá para baixo. É mal pensado. Temos uma dívida enorme para pagar, e a melhor maneira de conseguir pagá-la é impedir que um quinto dos trabalhadores possa produzir. Aceita a tua função neste processo e não esperneies. (...).
Ricardo Araújo Pereira

08/06/2013

"La Sagacité"

« A la sagacité de l'esprit appartient la finesse ; à la sagacité de l'âme appartient la délicatesse des sentiments et de l'expression. » 

 Jean-François Marmontel (1723 – 1799) [Evene Citations]


07/06/2013

"Macaco de rabo cortado"

(Jardim Zoológico, Lisboa)

De uma história infantil que tinha no meu livro da primária - O Macaco do rabo cortado:

O macaco subiu [...] para cima do telhado e cantou: 

"Do rabo fiz navalha,
da navalha fiz sardinha, 
da sardinha fiz farinha, 
da farinha fiz menina, 
da menina fiz camisa, 
da camisa fiz viola, e
 eu vou para Angola".


05/06/2013

A cor em diálogo

Apesar do sol há dias de mar agitado. O dia começou assim como o vê Caspar Friedrich.

Caspar David Friedrich, Wanderer above the Sea of Fog, 1818
The Hamburger Kunsthalle, Hamburgo, Alemanha [wikipedia]


Porém, no desenrolar do dia, com a chegada da noite, olhei para a minha câmara e encontrei estas flores que me levaram até Cézanne, à sua pintura e ao seu pensamento.


A pintura começa por ser uma óptica. Naquilo que os nossos olhos pensam esta é  a matéria da nossa arte... Quando a natureza é respeitada, desenvencilha-se sempre para dizer o que significa. [Cézanne]

Paul Cézanne, Still Life with Blue Pot, c. 1900-1906,J. Paul Getty Museum, Los Angeles.
Watercolor and graphite on paper, 













Eu [Joachim Gasquet] - Para si, ela significa então qualquer coisa? Não será por se meter dentro dela? 
Cézanne - Talvez... E muito no fundo até tem razão. Quis copiá-la, à natureza, e não consegui. De nada me valia procurar fazê-lo, agarrá-la por todos os lados. Irredutível.  Em todos os seus lados. Mas fiquei contente comigo próprio quando descobri que o sol, por exemplo, embora não fosse reprodutível tínhamos de representá-lo por outra coisa... pela cor. Tudo o resto, as teorias, o desenho são à sua maneira uma lógica, uma lógica bastarda entre a aritmética, a geometria e a cor... (...) Só há uma estrada para transmitirmos, para traduzirmos tudo: a cor.

Paul Cézanne, por Élie Faure seguido de O que ele me disse... por Joachim Gasquet (tradução de Anibal Fernandes). Lisboa: Sistema Solar, 2012, p. 78-79.

Cézanne viveu acima de tudo para a cor. Nesta convivência encontramos também Myra Landau que em perfeito diálogo comunga com  o seu trabalho (Blue). 
Um dia gostaria de ver juntas uma tela de Myra ao lado de uma de Cézanne, aproximar-me e sentir o cheiro de ambas.

Myra Landau , Azul


01/06/2013

"Era uma grande estrela de papel"

O olhar rente ao chão: cardos, apesar de picarem podem ser belos



BRINQUEDO

Foi um sonho que eu tive: 
Era uma grande estrela de papel, 
Um cordel 
E um menino de bibe. 

O menino tinha lançado a estrela 
Com ar de quem semeia uma ilusão; 
E a estrela ia subindo, azul e amarela, 
Presa pelo cordel à sua mão. 

Mas tão alto subiu 
Que deixou de ser estrela de papel. 
E o menino, ao vê-la assim, sorriu 
E cortou-lhe o cordel.

 Miguel Torga in Diário, vol. II

"A força esmaga a fraqueza"



 A fraqueza alimenta a força para que a força esmague a fraqueza. 

José Saramago, in Cadernos de Lanzarote (1994)'
[Um país em que os reformados têm que procurar emprego não é um país que se preze.]


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