31/08/2011

Toledo a cidade das três culturas -1

O caderninho com o roteiro da viagem foi feito por mim. O desenho é de MJ Falcão.


Mapa retirado da net do site do turismo de Toledo. Agradeço também a MR que me deu umas dicas para melhor aproveitar a cidade.



Toledo, a cidade das três culturas: cristã, judaica e muçulmana.


Neste périplo por terras de Espanha destaco primeiro o pintor que me levou até Toledo: Doménikos Theotokópoulos, El Greco como ficou mais conhecido. A sua origem é grega, nasceu em Fodele, Iráclio em 1541. Viveu em Veneza, em Roma e em Toledo, convidado por Filipe II, cidade onde viria a falecer.



Casa El Greco, Toledo, Espanha



«Documentalmente se sabe que El Greco residió en el abandonado palacio del Marquês de Villena, duque de Escalona, situado en lo que hoy es Paseo del Tránsito y casas colidantes.
Lo que románticamente llamamos Casa de El Greco, eran los palacios de Samuel Leví, tesorero del Rey D. Pedro y que passaran después a manos de la Duquesa "vieja" D. Aldonza
Mendonza, duquesa de Arjona.
A principio de siglo, el Marqués de la Vega-Inclán, con el sano proposito de retener la memoria del Greco, y admirar a sua obra acondiciona el viejo caserón para instalar sus cuadros, ideando una réplica de lo que podía haber sido la mansión del pintor, creando uma atmosfera fiel, con muebles de época



Toledo, ... su Arte, ... su Historia, texto de Rufino Miranda, Toledo, 2008 (Guia turístico).

Apesar de algumas incertezas, o espaço guarda memórias do pintor, poderá não ter sido a sua casa mas sente-se a sua presença através das telas expostas. Começo assim, a visita pela cultura cristã sob o olhar de El Greco.



No pátio observa-se um pote, um artefacto que gosto muito.


Detalhe do pátio.



Nesta sala estão expostas telas de El Greco que representam os Apóstolos. Também existem cópias de quadros feitas pelos púpilos do pintor.



Acesso a outra sala.
Num dos corredores da casa existe uma parede repleta com projecções de telas famosas de El Greco que vão surgindo e nos interpelam.


El Greco: afirmava:



"Acredito que a reprodução da cor é a maior dificuldade da arte."



El Greco (notas do pintor, num dos seus comentários)
Marias-Bustamante, Las Ideas Artísticas de El Greco, 80, wikipedia




Estou inteiramente de acordo com a ideia do pintor, a cor deve ser o problema mais desafiador.



Na Casa de El Greco há um quadro que reteve o meu interesse: o retrato de São Judas Tadeu por causa do seu olhar e da sua expressão. É um retrato com alma.
No meu entender este pintor estava um passo à frente dos seus contemporâneos. No entanto, há quem diga que o traço e a cor dele correspondiam a um pintor menor.


El Greco, São Judas Tadeo, c. 1608-1614




A suposta biblioteca de El Greco. Um espólio rico para a época.



30/08/2011

Leitura de férias 1 - Destinos... pensamentos...

a solidão dos números primos,

Fotografia da capa do livro

um livro de Paolo Giordano. O escritor nasceu em Turim em 1982. Licenciou-se em Física de Partículas na Universidade de Turim e ganhou uma bolsa de doutoramento. Com este título recebeu um dos prémios literários mais importantes de Itália, o prémio Strenge.

a solidão dos números primos não será uma obra-prima mas tem uma verdade contundente e associa a ciência à essência da vida. Neste livro o destino é uma palavra demasiado forte para se usar com leveza e os números têm um lugar próprio, tal como o homem tem no tabuleiro de xadrez.

Os números primos apenas são divisíveis por 1 e pelo próprio número. Estão no lugar que lhes é próprio na infinita série dos números naturais, esmagados como todos entre dois, mas um passo mais além relativamente aos outros. São números desconfiados e solitários e, por isso, Mattia achava-os maravilhosos. (p. 119)

Viviam a lenta e invisível compenetração dos seus universos, como dois astros que gravitavam em torno de um eixo comum, em órbitas cada vez mais estreitas, cujo destino evidente é o de coalescerem nalgum ponto do espaço e do tempo. (p. 142)

Porque ela e Mattia estavam unidos por um fio elástico e invisível, sepultado debaixo de um nome de coisas de pouca importância, um fio que podia existir apenas entre duas pessoas como eles: duas pessoas que havia reconhecido uma na outra a própria solidão. (p. 239)

Paolo Giordano a solidão dos números primos, Lisboa: Bertrand Editora, 2009, p. 119; 142; 239.

29/08/2011

Recuerdos com cheiro a maresia

Para agradecer a todos trago o azul do mar pontuado por algumas nuvens.

Os ponteiros do relógio em férias andam mais lentamente... embora os dias teimem em passar. Regressamos à infância, às ondas do mar, aos mergulhos, à areia que foge dos dedos, ao som profundo do mar.

Alicante, Castelo de Santa Bárbara, Espanha
Há sempre um tesouro e um barco perdido com a vela desfraldada...


Procuramos o tesouro todos os dias, do primeiro ao último mergulho.


No fundo do mar não o encontramos.
Visitamos as memórias,
as muralhas.
Ao longe avista-se o mar. Lava-se a alma. O tesouro está na procura...

Abrem-se as ostras mas elas são estéreis. Então ficam os sonhos para o ano que vem!



Obrigada a todos pela companhia e pela partilha. :)))


Conheci Joaquín Pascual, um baladeiro, por andar por esta praia.

23/08/2011

Um intervalo nas férias para uma homenagem

A História das coisas simples do dia-a-dia, a casa, a vida rural, o sustento, o divertimento, a cultura ou os afectos são questões que me interessam sobremaneira. À procura de respostas e de problemáticas sobre estas matérias recorri ao Professor Doutor A. H. Oliveira Marques para homenagear o historiador no dia do seu aniversário, 23 de Agosto de 1933.



Ilustração do Livro das Horas Très Riches Heures du Duc de Berry, c. 1410.






João, Duque de Berry apreciando uma grande refeição. O Duque está sentado na alta mesa abaixo de um luxuoso baldaquino em frente à lareira, servido por vários criados, incluindo um que somente serve as carnes. À mesa, à esquerda do Duque, está um saleiro dourado, na forma de um navio. (wikipedia)


A Mesa
De uma maneira geral, a alimentação medieva era pobre, se comparada com os padrões modernos. A quantidade supria, quantas vezes, a qualidade. A técnica culinária achava-se ainda numa fase rudimentar e as conquistas da cozinha romana haviam-se perdido. A condimentação obedecia a princípios extremamente simples.
Do ponto de vista da ciência actual, a alimentação medieva revelava-se deficiente em vitaminas. Feita à base de cereais, de carne, de peixe e de vinho, mostrava falta grande de vitamina D e considerável de A e C. Os resultados destas deficiências traduziam-se por uma débil resistência às infecções, com o consequente progresso fácil das epidemias; por frequentes doenças da vesícula e dos rins (resultado da acumulação de pedra) e dos olhos (cegueira, xeroftalmia), resultado da falta de vitamina A; finalmente, por escorbuto muito comum, devido à deficiência em vitamina C2.
As duas refeições principais do dia eram o «jantar e a ceia». Jantava-se, nos fins do século XIV, entre as dez e as onze horas da manhã; mas nos séculos anteriores, essa hora teria de recuar para as oito ou nove. Ceava-se pelas seis ou sete horas da tarde. No Leal Conselheiro, o rei D. Duarte recomendava que decorressem sete a oito horas entre as duas refeições e que, jantando-se muito, se ceasse pouco, assim como, ceando-se muito, se jantasse pouco no dia imediato. Como ideal de frugalidade, prescrevia-se a ausência de qualquer outro repasto durante o dia. É de supor, contudo, que o progressivo atraso da hora do jantar tivesse implicado, a partir de certa altura, a necessidade de um "almoço" tomado pouco depois do levantar.
O jantar era a refeição mais forte do dia. O número de pratos servidos andava, em média, pelos três, sem contar sopas, acompanhamentos ou sobremesas. Isto, entenda-se, em relação ao rei, à nobreza e ao alto clero. Entre os menos privilegiados ou os menos ricos, o número de pratos ao jantar podia descer para dois ou até um. À ceia, baixava para dois a média das iguarias tomadas; ou para um, nos outros casos indicados. A base da alimentação por excelência era a carne. Ao lado das carnes de matadouro ou carnes gordas, vaca, porco, carneiro, cabrito (na Coimbra do século XII, cotava-se a maior preço a carne de porco e a carne de carneiro gordo, e só depois vinham a vaca e o cabrito; na Évora de 1280, como de 1384, valia a carne de vaca o dobro da de porco e mais do dobro das de carneiro e cabra), consumia-se largamente caça e criação.




A.H. Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa, Lisboa: Esfera dos Livros, 2010, p. 28

15/08/2011

Finalmente...! Das muralhas até ao mar

Antes de chegar ao azul do mar vou passar por aqui:

Toledo

A lo largo de toda su extensa historia, Toledo ha sido conocida siempre por ser la Ciudad de la Tolerancia o la Ciudad de las Tres Culturas, con la convivencia de judíos, musulmanes y cristianos.

A Literatura em Toledo da idade Tardo-medieval à idade Moderna


Juan Ruiz, Arcipreste de Hita

El Libro de buen amor
(...)
El libro es como un instrumento musical:
De todos instrumentos yo, libro, só pariente:
bien o mal, qual puntares, tal diré ciertamente;
qual tú dezir quisieres, ý faz punto, ý tente;
si me puntar sopieres, sienpre me avrás en miente.
(...)
Juan Ruiz (c. 1284 - c. 1351)
(...)
Por que de todo el bien es comienço e rrayz
la Virgen Santa Maria, por ende yo, Juan Rruyz,
Açipreste de Fita, dello primero fiz
cantar de los sus gozos siete que asy diz:

Quan[d]o los lobos preso lo an a don Juan en el canpo
Maria, luz del dia, tu nos gia, toda via.
Dame graçia e bendeçion e del çielo consolación,
que pueda con devocion cantar de alegria.
(70)
Ms. 19 de la Biblioteca de la Real Academia Española de la Lengua, escribe (f. 1vo.):

Santa Teresa de Ávila
(1515-1582) esteve em Toledo.




Vivo sin vivir en
Vivo sin vivir en mí,

y de tal manera espero,
que muero porque no muero.
(...)
Santa Teresa de Ávila




San Juan de la Cruz foi acusado de apóstata o que lhe valeu 9 meses de prisão num convento em Toledo.
(1542-1591)

Cántico espiritual
Canciones entre el alma y el esposo
(...)
Cogednos las raposas,
que está ya florecida nuestra viña,
en tanto que de rosas
hacemos una piña,
y no parezca nadie en la montiña. 125
(...)
San Juan de la Cruz



FINALMENTE O MAR AZULFotografia de uma agência turística retirada do Google


Quando regressar com fotografias digo de onde é esta.

Resta-me agradecer a todos os que me visitam e partilham comigo as suas ideias.

Deixo uma frase que ouvi ontem:

"Vale mais ser interessado do que interessante"!

Eduardo Ribeiro



Até breve!

14/08/2011

Múltiplas faces da Arte - 1

Um Lují,

Henna, como se chama no Brasil, é uma pintura que se faz em solteira e tradicionalmente antes do casamento para realçar a beleza feminina. Quanto mais tempo durar a pintura mais feliz se é no casamento. *



Não podia haver mãos mais bonitas para apresentar um poema de Rilke sobre a Virgem Maria, isto antecipando o dia da sua ascensão (15 de Agosto):

A Vida de Maria



Rainer Maria Rilke, A Vida de Maria, Lisboa: Portugália Editora, 2008, p. 21
(Trad. Maria Teresa Dias Furtado)

E aproveito Rilke para apresentar o retábulo da Igreja de Madre Deus
atribuído a
Mestre João Afonso ?1515, Assunção da Virgem



Museu Nacional de Arte Antiga, retirado do site Matrix

E um presente - A Virgem e o Menino de

Giovanni Bellini, San Zaccaria Altarpiece, "Sacra Conversazione" (1505) * *
Veneza, Itália

A Virgem o Menino ladeados por Santa Catarina e Santa Lúzia com os seus atributos.

Num plano mais próximo S. Pedro com as chaves e o Livro da Sabedoria e S. Jerónimo com a Vulgata.

* presentes de Cozinha dos Vurdóns (para saber mais visitar o seu blog) e **MJ Falcão. Grata!

"Ave Maria" アヴェマリア HIRATA Tango Quartet

12/08/2011

NADA!

Eugénio de Andrade escreveu um poema cujo título é

NADA



in O Sal da Língua


***

5 Pombas

Para as minhas amigas da Cozinha dos Vurdóns desenhos de Picasso que representam o trabalho que realizam.

Pablo Picasso, Le visage de la paix - A face da paz
nº1


nº2



nº3



nº4



nº5





Cinco mulheres,
Cinco pombas
voam nos céus do Brasil
cantando a paz.

Todas as imagens foram retiradas do Google a quem agradeço

Um quadro de um pintor italiano que gosto muito:
Amadeo Modigliani La Gitana e il bambino




Um presente das minhas amigas e não podia ser mais lindo! Muito Obrigada.

Thomas Couture, Tzigane



Receita da avó - Caldo Verde
Em casa da minha avó e na família o caldo verde é diferente.

Ingredientes:
Couve portuguesa
Batata (poucas)
Alho
Azeite
Sal qb
Coloca-se o azeite numa panela, junta-se o alho; em seguida põem-se as batatas (poucas)a alourar um bocadinho e deixa-se ferver. Finalmente passam-se as batatas e junta-se a couve.
Ao servir o caldo verde quem quiser coloca o chouriço.


Bom apetite!:)))))


11/08/2011

SE (o mundo não andasse do avesso)

Amor
Caracteres do Chinês tradicional:
Mandarim





(Retirado do tradutor automático)


Londres, Big Ben


Notting Hill, Londres




SE
Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na luta por um bem definitivo
Em que as coisas de amor se eternizassem.


Sophia de Mello Breyner Andresen, Banco de poesia casa Fernando Pessoa

09/08/2011

O mundo do avesso - o direito do mais forte à liberdade

Nos úitimos dias acordámos com o mundo do avesso. A força da violência esmaga, dita uma liberdade vazia de conteúdo.

O céu é cinzento em Londres e as estrelas não brilham. A noite avança e o terror instala-se.

À crise económica junta-se a crise de valores, aqui só o mais forte tem direito à liberdade, uma liberdade amarga.



Uma fábrica/ ou armazém que resistiu a duas guerras morre através da malvadez.



Fotografia retirada do google








É caso para lembrar Cruzeiro Seixas - O sonho



Detalhe o Sonho de Cruzeiro Seixas

O SONHO É UM PESO IMENSO PARA A
FRAGILIDADE DA PALAVRA...

Artur do Cruzeiro Seixas, O espírito das coisas invisíveis
Catálogo da exposição Loja das Quasi, 2008-2009




08/08/2011

Fechar os olhos

Quando se tem tudo não se dá valor à caminhada.
É fácil fechar os olhos e obter a pena que ajudará...

07/08/2011

Um desenho, uma Vitória, Sensibilidade

A Vitória de Samotrácia que existe no Louvre é uma das peças escultóricas que admiro e que nunca me cansa a vista, pelo contrário, alimenta-me o espírito. Já coloquei a fotografia da escultura e a ela dediquei um post. Mas descobri esta Vitória, linda, cujo panejamento voa como a de pedra. O vento, a grandeza, a vitória... ei-la aqui triunfante!


MJ Falcão foi a desenhadora e não a acha perfeita. Pois, eu acho.

MJ Falcão, Vitória de Samotrácia, 1989.


Desenho a carvão.

06/08/2011

Intelligentia

Tiziano, Detalhe de Alegoria da Prudência



Tiziano, Alegoria da Prudência, 1565-1570


National Gallery, Londres



Inteligência - in.te.li.gên.cia1 sf (lat intelligentia)
1. Faculdade de entender, pensar, raciocinar e interpretar; entendimento, intelecto.
2. Compreensão, conhecimento profundo.
3. Filosofia - Princípio espiritual e abstrato considerado como a fonte de toda a intelectualidade.
4. Psicologia - Capacidade de resolver situações novas com rapidez e êxito (medido na execução de tarefas que envolvam apreensão de relações abstratas) e, bem assim, de aprender, para que essas situações possam ser bem resolvidas.
5. Pessoa de grande esfera intelectual.

Retirado do Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis
Sê prudente ana!

Do Amor - Cruzeiro Seixas

Cruzeiro Seixas desenho de uma tapeçaria de Portalegre, AMOR SUBLIME



Exposição na Reitoria da Universidade de Lisboa, 2010.


AMOR


A preto e branco

entrelaçamos as mãos

e as pernas

e tornamo-nos num só.



***
Há anos que não ouvia isto...




05/08/2011

Led Zepplin

Led Zeppelin-Stairway to Heaven



There's a lady who's sure all that glitters is gold
And she's buying a stairway to heaven
When she gets there she knows, if the stores are all closed
With a word she can get what she came for
Ooh, ooh, and she's buying a stairway to heaven

There's a sign on the wall but she wants to be sure
'Cause you know sometimes words have two meanings
In a tree by the brook, there's a songbird who sings
Sometimes all of our thoughts are misleading
Ooh, it makes me wonder
Ooh, it makes me wonder

There's a feeling I get when I look to the west
And my spirit is crying for leaving
In my thoughts I have seen rings of smoke through the trees
And the voices of those who stand looking
and it makes me wonder
really makes me wonder

And it's whispered that soon if we all call the tune
Then the piper will lead us to reason
And a new day will dawn for those who stand long
And the forest will echo with laughter

If there's a bustle in your hedgerow, don't be alarmed now,
It's just a spring clean from the May Queen
Yes, there are two paths you can go by, but in the long run
There's still time to change the road you're on
Ooh, it makes me wonder
Ooh, Ooh, it makes me wonder

Your head is humming and it won't go, in case you don't know
The piper's calling you to join him
Dear lady, can't you hear the wind blow, and did you know
Your stairway lies on the whispering wind

And as we wind on down the road
Our shadows taller than our soul
There walks a lady we all know
Who shines white light and wants to show
How everything still turns to gold
And if you listen very hard
The tune will come to you at last
When all is one and one is all, yeah
To be a rock and not to roll.

And she's buying the stairway to heaven

04/08/2011

Perda

Apanhei todas as flores

e

perdi-as pelo caminho...


Tapeçaria Medieval, O Unicórnio preso, 1495-1505




368 x 251.5 cm, Metropolitan Museum, Nova Iorque daqui.

03/08/2011

Vulnerabilidade...

Visitei recentemente o Museu de Arte Contemporânea, Museu do Chiado, e fotografei esta escultura de António Teixeira porque o tema entristece: A Viúva, uma mulher nova com um filho para criar. Ainda não a tinha colocado, embora figure do lado esquerdo do écran, porque queria um texto especial. Encontrei esse texto no blogue A Linguagem dos Pássaros. Atrevidamente retirei um excerto, poderão ler o texto na íntegra no link assinalado. Porquê ligar esta escultura ao texto?

Uma mulher só, com um filho para criar... uma mulher que espera da vida ver o filho a crescer, torna-se vulnerável. Não conheço a história desta escultura mas atribuo-lhe uma a partir do título dado pelo escultor. O criador é ele mas eu crio com a minha fantasia uma história. Não importa se é verdadeira ou falsa, ela não passa de uma história, não é ciência.

Sorridente esta mãe alimenta o filho, dá-lhe o amor unilateral porque a criança perdeu o pai, ela pode ser manipuladora ou manipulável. Ninguém gosta de ser manipulado mas o remoinho das águas, a corrente do rio leva sem entender o remexer das águas.

Obrigada Blue pela beleza do texto! Não gosto de manipulações. Mas será que num dado momento não caímos nesse erro?

António Lopes Teixeira, A viúva, 1893


Museu Nacional de Arte Contemporânea, Museu Chiado, Lisboa

A escultura é uma beleza romântica: desde a expressão, o movimento, até à obrigação de mãe.





Debaixo daquela árvore, olha para o céu. Neste breve momento os pensamentos dela explodem. Coisas que ela não suporta a invasão, a invasão do seu ser, a tentativa de manipulação, quando pensa em tentativa, não passam de tentativas. Mas em redor existe sempre a tentativa de manipulação sobre alguém. Pensou nas pessoas que tinham a prepotência, de achar que através da escrita de alguém se achavam capazes de pensar, de ser, ou conhecer essa pessoa por dentro, quase na íntegra. A análise do texto, das palavras, do contexto. Da forma como essas pessoas conseguiam colocar outras pessoas numa constante prova, como se alguém lhes devesse qualquer tipo de prova. Que prepotência, que ousadia. Querer entrar dentro dum outro ser, começando devagar, de mansinho. Mas a ânsia vai aumentando e esse exercício imposto nunca pode durar muito tempo. Nunca sobre ela, ela nunca permitiria. A invasão. «Vamos cá ver, se eu conseguir estar perante um quadro de x, vou conseguir sentir o que ele sentiu quando o pintou» ou «se eu ler a poesia de y, vou conseguir saber exactamente como ele é, o que sente e pensa?» Como é possivel alguém ter a presunção de pensar algo assim ou semelhante?
Até onde chega a loucura? Até onde chega a doença? Até onde chega aquilo que ela não consegue conceber, nem quer compreender. Perante uma Obra de um Artista, sente-se. Pode ter visto as obras e ter lído sobre a vida de x ou y, ela não pode sentir o que x sentiu, pode ser x, y, z ....Mas que disparate! E como existem pessoas assim? Porque pessoas assim não sabem criar, não têm criatividade, nem nunca saberão sentir o que se pode quase chamar o transcendental.


Texto da minha amiga Blue, Linguagem dos Pássaros


Barenboim - Bach Goldberg Variations - Aria

02/08/2011

A Palavra, Miguel Torga

Jorge Marinho perpetua Miguel Torga na sua pintura. Retirada daqui.


Adolfo Rocha (Miguel Torga) entre os bichos como o livro que escreveu e porque entendia a sua linguagem. Foi médico, escritor, poeta e ensaísta e sobretudo, uma pessoa humana.
Miguel Torga, desenho a carvão de Isolino Vaz


De Miguel Torga, A Palavra porque as palavras são o código mais importante de um povo.

A Torre da Universidade...


A PALAVRA

Falo da natureza.
E nas minhas palavras vou sentindo
A dureza das pedras,
A frescura das fontes,
O perfume das flores.
Digo, e tenho na voz
O mistério das coisas nomeadas.
Nem preciso de as ver.
Tanto as olhei,
Interroguei,
Analisei
E referi, outrora,
Que nos próprios sinais com que as marquei
As reconheço, agora.

Miguel Torga, S. Martinho da Anta, 13 de Abril de 1965,


Retirado da Casa Fernando Pessoa - Banco de Poesia.


Universidade de Coimbra
Faculdade de Direito



O 7 em especial para o Pedro Coimbra

(fotografia tirada de uma foto antiga do Formidável, exposta no Fórum de Coimbra)



Às memórias!





Ontem li que uma iraniana, Ameneh Bahrami, desfigurada e cega com ácido por recusar um pretendente perdoou o seu agressor da pena de talião que fora pedida por ela. A nobreza de sentimentos ressaltou e a palavra foi mais importante do que os actos. A isto chamo civilidade.


Não pude deixar de relacionar o poema de Miguel Torga com esta atitude. O mundo dos homens é feito com palavras, pena que às vezes elas sejam desprovidas de humanidade!


Este vídeo tem umas fotografias bonitas de Coimbra, de uma Coimbra que ainda existe e de outra que já não existe. Pedro enjoy.

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