28/11/2010

Blake in Memoriam!

William Blake nasceu a 28 de Novembro, de 1757, em Londres. Gosto imenso das suas aguarelas, da sua poesia e desenhos. O simbolismo patente nos seus trabalhos revela a constante procura de desvendar o mistério da vida.


Escolhi para o homenagear a Criação de Eva, como o início de tudo.
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Illustration to Milton's "Lost Paradise", National Gallery of Victoria, Melbourne
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A segunda escolha tem que ver com o fim e o enigma da morte. Esta como consequência do pecado original e da expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden.
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A Casa da Morte, 1795-c.1805

Colour printed finished in ink and watercolour, Illustration to Milton's "Lost Paradise", Tate Gallery, London

E para finalizar alguns trabalhos dele ao som de Vivaldi.

William Blake - British Romantic Writer and Painter and Illustrator, 1757-1827 and Vivaldi: Gloria, for 6 solo voices, chorus, trumpet, 2 oboes, 2 violins, 2 violas, 2 cellos, strings & continuo in D major


Não dês nada...

Dá rosas, rosas, a quem sonha rosas!


Dá rosas, rosas, a quem sonha rosas!
Ou não dês nada, que sonhar é tudo.
As flores naturais e preciosas
São as que eu sonho, transtornado e mudo.

Dá rosas, rosas, só em pensamento,
A quem não tem no mundo mais jardim
Que aquele que há entre o desejo e o intento
E onde haja as rosas que me dás a mim.

Fernando Pessoa, Poesia 1931-1935 e não datada , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2006

27/11/2010

Caem os sonhos um a um

como estas folhas outonais!
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Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa



XV

Caem os sonhos um a um
e o sangue estremece.
Caem, e ficam no chão
de quem os morde e os esquece.

Farto de seiva, o dia amadurece.

Eugénio de Andrade, As mãos e os frutos, Vila Nova de Famalicão: Quasi, (22ª ed.), 2006, p.39.

26/11/2010

In Memoriam - Mário Cesariny

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Mário Cesariny, Ilustração: No Pássaro Paradípsico de Manuel Lourenço


Faz-se Luz

Faz-se luz pelo processo
de eliminação de sombras
Ora as sombras existem
as sombras têm exaustiva vida própria
não dum e doutro lado da luz mas no próprio seio dela
intensamente amantes loucamente amadas
e espalham pelo chão braços de luz cinzenta
que se introduzem pelo bico nos olhos do homem
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Por outro lado a sombra dita a luz
não ilumina realmente os objectos
os objectos vivem às escuras
numa perpétua aurora surrealista
com a qual não podemos contactar
senão como amantes
de olhos fechados
e lâmpadas nos dedos e na boca

Mário Cesariny, in "Pena Capital"
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Mário Cesariny de Vasconcelos pereceu a 26 de Novembro de 2006. A vinheta desta semana homenageou este escritor e pintor surrealista. Escolhi este poema para dar alento a estes dias mais curtos e escuros. Faça-se então Luz.
A ilustração encantou-me porque pode ser uma flor ou um sol - Luz!


Yundi Li - Chopin "Fantasie" Impromptu, Op. 66

25/11/2010

...o próprio homem

Eça de Queirós nasceu na Póvoa de Varzim a 25 de Novembro de 1845. Homenageio-o com a recordação, em pintura, de um dos livros que me deu prazer ler que foi O Crime do Padre Amaro pela crítica e a ironia subjacentes.
Paula Rêgo pintou um conjunto de telas impressionantes sobre este livro. A exposição esteve no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian em 1998 e eu tive o privilégio de a visitar.
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Paula Rêgo, O Crime do Padre Amaro - O embaixador de Jesus

«O melhor espectáculo para o homem será sempre o próprio homem.»
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Eça de Queirós
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In Citações e Pensamentos de Eça de Queirós, ( organizada por Paulo neves da Silva) Lisboa: Casa das Letras, 2010
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Se não nos rirmos de nós próprios, das nossas fraquezas e dos nossos sucessos de quem nos devemos rir?
Eça sempre soube rir da hipocrisia da sociedade portuguesa apontando as fraquezas humanas. O seu riso tinha como objectivo criar um mundo melhor.



Faenol Festival 2003: 3. In Trutina (from Carmina Burana) - Hayley Westenra

23/11/2010

A Verdade... entre o silêncio

Ontem vi a entrevista de Judite de Sousa a um ex-casapiano. Fez-me impressão a dor que ainda se observa na fisionomia do rapaz. Não confio na justiça ou pelo menos sou menos crente.
Assolaram-me uma série de associações, nada interligado... Abomino a violência, o desrespeito, o abuso do mais forte sobre a fragilidade.
A sensibilidade não existe nestes meios. É um mundo que desconheço e o qual não imagino, felizmente. Custou-me ver aquele jovem que não nomeio porque julgo que ele precisa de paz e de "silêncios" para se reencontrar. Há no entanto, uma particularidade que me espantou e não compreendo, ele ainda via como um pai a pessoa que o conduziu para uma vivência dolorosa.
Depois deste desabafo só me lembrei do poema de Fernando Pessoa: Achar a Montanha e da tinta da china de Cruzeiro Seixas: A Terra e o Céu.
Que do Céu chovam cavaleiros da justiça e que da Terra se procure a luz da verdade. E que a verdade tenha um sentido duplo.
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Cruzeiro Seixas, A terra e o Céu, tinta da china sobre papel Retirada daqui
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A Montanha por Achar

A montanha por achar
Há-de ser quando a encontrar,
Um templo aberto na pedra
Da encosta onde nada medra.

O santuário que ter,
Quando o encontrar, há-de ser
Na montanha procurada
E na gruta ali achada.

A verdade, se ela existe,
Ver-se-á que só consiste
Na procura da verdade
Porque a vida é só metade.

Fernando Pessoa, In Poesia 1931-1935 e não datada , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2006

Em prol da Ciência

A lua durante esta noite!


Todos nos maravilhamos com as estrelas, a lua, o sol... o universo.


Pequeno Atlas do Sistema Solar


A obra Pequeno Atlas do Sistema Solar, da autoria de Eduardo Ivo Alves, será apresentada no próximo dia 23 de Novembro (3.ª feira), pelas 18h30m, na Livraria Fnac Coimbra.

A apresentação estará a cargo de Pedro Pina, investigador do Instituto Superior Técnico.

Eduardo Ivo Alves é Professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, é geólogo e ultimamente tem se dedicado à investigação planetária. O livro é publicado pela Imprensa da Universidade de Coimbra e destina-se ao grande público.

22/11/2010

Um anjo?

De Budapeste trouxe esta memória, uma escultura que ainda hoje me atormenta: O Génio da Morte.

Em plena época da Art Noveau (ou ainda resquícios de romantismo?), o escultor criou a peça com umas grandes asas, será a morte libertadora? x

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Donáth Gyula (1850-1909), The Genius of Death




Galeria Nacional Húngara, Buda, Budapeste, Húngria




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Trouxe Liszt na bagagem - Harmonies poétiques et religieuses, S.173 - 6. Hymne de l'Enfant à son réveil

Piano Leslie Howard






E a beleza de Peste vista de Buda, Budapeste, Húngria


21/11/2010

A ilha eterna onde nunca amanhece nem anoitece

A voz é tão poderosa como uma pintura. A ária "Ebben? ne andrò lontana", da ópera La Wally de Alfredo Catalani povoou uma parte da noite. Lembrei-me dela quando olhei para a barca e os corvos, símbolos de Lisboa.
Se com esta ária se pudesse pintar uma tela, o branco dos Alpes em festa de Inverno imperava, apesar da trágica morte dos amantes.
A vida e a morte surgem como uma pena que voa levada pela leveza do vento. A morte aparece como libertadora. O abismo e a neve são o cenário onde dois corvos negros simbolizam a passagem da barca para a ilha eterna onde nunca amanhece nem anoitece!
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S. Carlos, Lisboa
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Maria Callas faz desta morte o encontro com a serenidade!



20/11/2010

Uma janela iluminava-a...

É com prazer que folheio esta história: A Rapariga com o Brinco de Pérola, de Tracy Chevalier. Cada página recorda a película, a sensibilidade e a beleza que se desenrolam perante os nossos olhos. Surge a visão de uma rapariga simples, Griet, que observa a pintura e o mistério que o seu mestre representa.
Neste quadro a vaidade é perceptível a partir do espelho que reflecte a Mulher com o Colar de Pérolas.

xJohannes Vermeer,Woman with a Pearl Necklace, 1662-1664
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Staatliche Museen, Berlin



[A tela] Representava uma mulher de pé diante de uma mesa, de perfil, voltada para um espelho na parede. Tinha um manto sumptuoso de cetim amarelo debruado a arminho branco, e uma elegante fita vermelha de cinco pontas no cabelo. Uma janela iluminava-a da esquerda, e a luz incdia-lhe na face e delineava a curva delicada da testa e do nariz. Estava a pôr um colar de pérolas ao pescoço, a puxar as fitas para cima, com a mão no ar. Fascinada com a sua própria imagem no espelho, não parecia consciente de que alguém a olhava. (...)
Senti vontade de pôr aquele manto e as pérolas. Senti vontade de conhecer o homem que pintava assim aquela mulher.

Tracy Chevalier, Rapariga com Brinco de Pérola,Lisboa: Quetzal, 2008, p.40.

J. S. Bach - Prelude and Fugue n.1 in C Major BWV 846 (WTC I)

18/11/2010

de ilusão em ilusão... o afastamento da vaidade?

O livro aberto simbolizará a procura do perdão e o afastamento da vaidade?
(Clicar no link para ver o quadro).
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Quentin Metsys, Detalhe do quadro The Moneylender and his Wife (O Cambista e a sua Mulher), (1514). Acrescentei informação mais detalhada sobre o quadro a 21 de Novembro 16.49 h

Óleo sobre madeira, 71 x 68 cm, Museu do Louvre, Paris
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«Ao longo dos séculos, o homem fez tudo o que estava ao seu alcance para acreditar, andou de dogma em dogma, de ilusão em ilusão, e consagrou muito pouco tempo às dúvidas, breves intervalos entre os seus períodos de cegueira. A bem dizer, não se tratava de dúvidas mas sim de pausas, momentos de descanso, que se sucediam às fadigas da fé, de qualquer fé

E. M. Cioran, Do Inconveniente de Ter Nascido, Lisboa: Edições Galimard, 1973, p. 95.

OrFée au Lavoir Moderne Parisien nous chante illusion. Batterie: Edouard Coquard; piano: Michel Goubin; basse: Benoît Domuynk e guitare: Donatien Roustant

17/11/2010

A natureza tem que ajudar

Comprei esta rosa em Janeiro de 2008. Na altura era linda, floresceu, caiu a flor e este ano em 2010 ela morreu. Todos me diziam para a deitar fora pois, já nada podia nascer dali.
Entristeci... não queria que ela morresse, queria que durasse sempre.
Lembrei-me do Principezinho, de Saint-Exupéry, livro que tenho perdido nos confins das minhas estantes.Retirei daqui.

- Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que fez a tua rosa tão importante.


Perdi muito tempo com a minha rosa. Continuo a regá-la. Fiquei feliz por renascer, mas não depende só de mim,
a natureza tem que ajudar.

...um retrato, uma alma!

À procura da beleza porque o tédio mata!
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Júlio Romero Torres nasceu em Córdoba em 1874, estudou Belas Artes sob a orientação do pai, Rafael Romero Barros, um pintor impressionista.
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Júlio Romero Torres, Viva El Pelo, 1928

Museo Julio Romero Torres, Córdoba, Espanha


«Um retrato pintado com a alma é um retrato, não do modelo mas do artista»

Oscar Wilde (citador)

16/11/2010

My tears! ... Memories

Já fiz uma postagem com a canção deste poema em Agosto, na vinheta que contemplava as tapeçarias de Pastrana. Encontrei uma versão mais bonita da música, desta vez, no blogue "Feira das Vaidades".
Hoje não choveu, mas é como se chovesse na materialização destas lágrimas.
As lágrimas podem expressar alegria quando algo nos toca e maravilha, ou tristeza quando nos lembramos da dor que nos causaram pela descrença em nós.
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Rogier Van der Weyden, Detalhe de Cristo Descendo da Cruz, Rosto de S. João Evangelista onde manifesta a sua dor (acrescentado a 25 de Novembro 2010)
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Acho-o lindo por isso o usei, ele ilustra bem esta canção.
Esta imagem já foi utilizada no Prosimetron.

Flow My Tears

Flow, my tears, fall from your springs!
Exiled for ever, let me mourn;
Where night's black bird her sad infamy sings,
There let me live forlorn.

Down vain lights, shine you no more!
No nights are dark enough for those
That in despair their lost fortunes deplore.
Light doth but shame disclose.

Never may my woes be relieved,
Since pity is fled;
And tears and sighs and groans my weary days
Of all joys have deprived.

From the highest spire of contentment
My fortune is thrown;
And fear and grief and pain for my deserts
Are my hopes, since hope is gone.

Hark! you shadows that in darkness dwell,
Learn to condemn light
Happy, happy they that in hell
Feel not the world's despite.

John Dowland

Andreas Scholl

15/11/2010

Do apolínio - a beleza da "Rapariga com o Brinco de Pérola"!

A Rapariga com o Brinco de Pérola é uma tela de Vermeer que me deleita e me faz sorrir. O filme que vi realizado por Peter Webber, em 2003, também trouxe beleza aos meus pensamentos. Se o quadro é belo, o filme não o é menos, pois, vivencia, em ficção, a vida do pintor e a feitura deste quadro em particular. O realizador baseou-se no romance de Tracy Chevallier inspirado no quadro do célebre pintor.
O atelier de Vermeer, as cores e a luz que irradiam da suas telas narradas na ficção, a história de amor e de inibições, os gestos as sensações que se transmitem pelo olhar e nunca se materializam e o silêncio constante no filme embelezam ainda mais a película.
Este post nasceu de uma associação de ideias, por causa de um comentário e da constante procura de tudo o que é "apolínio".
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Johannes Vermeer, Girl with a Pearl Earring, c. 1665.
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Oil on canvas, 46.5 × 40 cm Royal Picture Gallery Mauritshuis Hague,(Haia)



Filme de Peter Webber


14/11/2010

La Japonaise

Claude Monet nasceu em Paris a 14 de Novembro, de 1840. Foi a vinheta que distingui para esta semana por gostar da sua pintura tão inovadora.
Entre as suas telas escolhi a mulher do pintor, Camille, que está retratada com um kimono, traje japonês. Na época, a cultura oriental, principalmente a japonesa, estava muito em voga. Como gosto de tudo o que é oriental, desde a comida, aos hábitos e mentalidades - talvez por serem tão diferentes dos nossos - voilà!
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«Monet a apporté, dans l'histoire, une puissance de vision exceptionnelement originale... »
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Claude Monet, La Japonaise, (Camille Monet in Japanese costume), 1876

Oil on canvas, 231 x 142 cm, Boston Museum of Fine Arts, Boston

Pierre Francastel, L'Impressionisme, Poitiers: Denöel/Gonthier, 1976, p. 43

13/11/2010

E a Flor é apenas flor. Alberto Caeiro

Nas palavras de Alberto Caeiro cada coisa é aquilo que é, ou seja uma borboleta é apenas uma borboleta e uma flor apenas uma flor. E nesta simplicidade complexa desenrola-se o Universo perante o quotidiano rotineiro em que à mesa apareceram pela primeira vez os dióspiros deste Outono.
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Adriaen Coorte, Three medlars with a butterfly, 1705


Adriaen Coorte é um pintor do barroco holandês, nasceu c. 1660 e faleceu depois de 1707.

Passa uma borboleta por diante de mim

Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move.
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.

7-5-1914
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Alberto Caeiro, “O Guardador de Rebanhos”. In Poemas de Alberto Caeiro . (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993), p. 64

GIOVANNI MOSSI, Concerto for four violins and basso continuo in G minor Op. 4 No. 12

12/11/2010

Vergílio Ferreira versus William Blake!

William Blake, Jacob's Ladder to Heaven, c. 1800

Watercolour, Bristish Museum, London

"Sabemos que o céu estava vazio ao terminarmos a sua escalada. Sabemo-lo porque vimos não da luz que vem das coisas, mas da força iluminadora que irrompe de nós próprios e da nossa presença".

Vergílio Ferreira, Carta ao Futuro, Lisboa: Quetzal, 2010, p.52

William Blake retrata o sonho de Jacob, do Livro do Genesis, 28,12

11/11/2010

Se as castanhas trouxessem segredos,


eu escolhia este:

INTERIOR

Havia uma rosa
no vaso. Veio do ocaso
a hora silenciosa.

Guilherme de Almeida, Encantamento, Acaso, Você. Editora UNICAMP, 2002, p.215

Retirei de Dança das Palavras

"A reprodução da cor é a maior dificuldade da arte", El Greco

El Greco, Doménikos Theotokópoulos , é um pintor de minha eleição. A sua estética é, para mim, extraordinariamente inovadora.
Desde Sexta-feira passada que S. Martinho nos acompanha pois, foi a vinheta que escolhi para esta semana.
Hoje, é dia de S. Martinho. Quem foi este homem?
Foi um soldado romano, do século IV que abraçou o cristianismo. O seu amor por Cristo levou-o a aceitar o cargo de Bispo de Tours, em 371.
Nesta tela, aparece trajado como cavaleiro do século XVI. El Greco materializa deste modo, a lenda de São Martinho, nela o santo teria dividido a sua capa com um mendigo dando mostras da sua generosidade.

El Greco, S. Martinho, 1597-99

National Gallery of Art, Washington, D.C.


Detalhe

"Acredito que a reprodução da cor é a maior dificuldade da arte."

El Greco (notas do pintor)

Marias-Bustamante, Las Ideas Artísticas de El Greco, p. 80 (Wikipedia)

10/11/2010

Henry Lee - A little bird lit down on Henry Lee



"Henry Lee"
(feat. PJ Harvey)

Get down, get down, little Henry Lee
And stay all night with me
You won't find a girl in this damn world
That will compare with me
And the wind did howl and the wind did blow
La la la la la
La la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee
I can't get down and I won't get down
And stay all night with thee
For the girl I have in that merry green land
I love far better than thee
And the wind did howl and the wind did blow
La la la la la
La la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee
She leaned herself against a fence
Just for a kiss or two
And with a little pen-knife held in her hand
She plugged him through and through
And the wind did roar and the wind did moan
La la la la la
La la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee
Come take him by his lilly-white hands
Come take him by his feet
And throw him in this deep deep well
Which is more than one hundred feet
And the wind did howl and the wind did blow
La la la la la
La la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee
Lie there, lie there, little Henry Lee
Till the flesh drops from your bones
For the girl you have in that merry green land
Can wait forever for you to come home
And the wind did howl and the wind did moan
La la la la la
La la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee

09/11/2010

Um auto-retrato com memórias... e Philip Roth

David Bailly nasceu em Leiden, em 1584, e tornou-se famoso pelos seus retratos, naturezas mortas e "vanitas" (vaidades). Faleceu na mesma cidade em 1657.

David Bailly, Auto-Retrato Com os Objectos da Vaidade, 1651


Óleo sobre tela, 65 x 97,5 cm, Stedelijk Museum De Lakenhal, Leiden

Ao ler o livro de Philip Roth, Todo-o-Mundo, lembrei-me deste auto-retrato porque o livro é uma narrativa sobre o indivíduo e o combate contra a mortalidade, ligada à história de uma família judia em Nova Iorque. O autor revela a relação íntima do sujeito com o corpo humano e as limitações da doença ao longo da vida.
Roth toca com alguma leveza e superficialidade temas profundos como, o amor, o casamento, o prazer, a família e a morte. É um livro nostálgico e com a impressão de um tempo que flui rapidamente. Ou seja os ponteiros do relógio andam vertiginosamente entre a infância e a vida adulta, num tempo linear. Li o livro num ápice mas ficou aquém das expectativas.

A associação com a tela apresentada está subjacente no tema da morte, do conhecimento (auto-conhecimento), da vaidade e das memórias que se constroem a partir de um conjunto de objectos.

A ligação com a música está patente na referência à morte e à nostalgia.
Danse Macabre de Camille Saint-Säens; piano: Thierry Huillet, violon: Clara Cernat.

07/11/2010

The Meaning of Life...

A felicidade ou o sentido da vida é o que todos procuramos entre os grãos das areias, no céu estrelado, na maresia, no chilreio de um pássaro ou numa minúscula flor. A dor é-lhe sempre inerente. Porquê?
Foi a Manuel de Góis, um jesuíta que leccionou no Colégio das Artes em Coimbra entre 1574 e 1582, que fui procurar um sentido...

Margarida Cepêda, Urdindo o Universo, 2000


Artigo III

Que a felicidade não consiste especificamente no prazer


«(...) uns disseram que o prazer é um mal, outros que nem é um mal nem um bem, outros que é um bem; e de entre estes últimos, alguns fazem residir nele a felicidade; outros no prazer da alma, que tem origem na contemplação da realidade e na prática das virtudes; outros, ainda, em ambos os prazeres, ou seja no da alma e no do corpo, bem como na apatia, isto é, na ausência de dores e moléstias.»

«(...) a aquisição do sumo bem deve ser estável, para que, deste modo, não tenha como consequência a tristeza.»

(...)
«Todos os prazeres têm esse comportamento
Com estímulos excitam quem deles desfruta.
No entanto, tal como as abelhas que voam,
Logo depois de derramarem o doce mel,
Também eles fogem, ferindo os corações
Já destroçados pela fatal mordedura. »
x
Boécio in, Livro III, Da Consolação, estrofe 7
xx
Manuel de Góis, Tratado da Felicidade (Disputa III do Comentário aos Livros das Éticas de Aristóteles a Nicómano [Lisboa, 1593]), Lisboa: Edições Sílabo, 2009, p.32-33 (Introdução Mário Santiago de Carvalho, trad Filipa Medeiros)

06/11/2010

Do mar que cantava só para mim.

Em memória de Sophia de Mello Breyner Andresen que nasceu no Porto a 6 de Novembro de 1919!
Admiro esta mulher pela poesia que construiu e pela vida plena que as memórias registam.
xSophia
As Ondas

As ondas quebravam uma a uma
Eu estava só na praia com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só para mim.
x
Sophia de Mello Breyner Andresen, O Dia da Mar,Lisboa: Edições Ática; 3ª ed. 1974, p. 15

Maria Bethania e Sophia de Mello Breyner Andresen declamam dois poemas.

04/11/2010

"Oiço com o meu corpo"!

VIVALDI: Portrait d’un violoniste vénitien du XVIIIe siècle, par François Morellon de La Cave (1723), généralement considéré comme étant celui de Vivaldi Museo internazionale e biblioteca della musica (Bologna)


A música joga com as sensações, eleva-nos o estado da alma - vibrar ao som da música - é uma expressão que ouço desde pequena.
Susan Sontag escreveu este apontamento no momento em que estava a ouvir um Concerto para piano em Si Menor de Vivaldi. Lamentavelmente não encontrei este concerto para ligar a música ao texto. Vou colocar uma ária de Vivaldi para mim excelsa.

"25/12/48

Neste momento estou fascinada por uma das mais belas peças musicais que alguma vez ouvi - o Concerto para p[iano] em Si Menor de Vivaldi, da [editora] Cetra. Soria, com Mário Salerno. A música é ao mesmo tempo a mais maravilhosa e a mais viva de todas as artes - é a mais abstracta, a mais perfeita, a mais pura - e a mais sensual. Oiço com o meu corpo e é no corpo que se desperta o desejo em resposta ao entusiasmo e à emoção incorporado nesta música. É o eu físico que sente uma dor insuportável - e depois uma ânsia fátua - quando o mundo inteiro da melodia resplandece e depois cai como uma cascata na segunda parte do primeiro andamento - é carne e osso que morre um pouco de cada vez que sou engolida por este anseio do segundo andamento - "
Susan Sontag, Renascer, Diários e Apontamentos 1947-1963, Lisboa: Quetzal, 2010, p.23

Philippe Jaroussky, Vivaldi


Vedrò con mio diletto
l'alma dell'alma mia
Il core del mio cor pien di contento.
E se dal caro oggetto
lungi convien che sia
Sospirerò penando ogni momento...



[Ária do I acto da ópera Justino de Vivaldi, libretto de Nicolò Beregan. O libretto encontra-se na Biblioteca Nazionale di Torino]

03/11/2010

O cansaço ...

Luis Egidio Meléndez foi um pintor espanhol que viveu no século XVIII e ficou conhecido pelas suas still-life.
Gostei deste auto-retrato porque o seu olhar transmite tranquilidade, ao mesmo tempo que impõe uma postura de pessoa determinada a vencer. Esta ideia partiu da posição do braço que segura a alfaia inerente à profissão. Hoje, (ontem) o meu cansaço chegou ao limite do razoável. Ao olhar o nu que o pintor desenhou... fechei os olhos e comecei a repousar. Há uma certa angústia por não conseguir trazer à luz a beleza das palavras e do sentir.


xLuis Meléndez, Auto-retrato Segurando um Estudo Académico, 1740
x Museu do Louvre, Paris
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O cansaço adormece a alma...
Caímos num abismo idêntico ao poço da Alice!

Bach - Air on a G String

02/11/2010

O que é?

O que é o amor? É beleza?

Eros (da colecção Farnese), Museu Nacional de Arqueologia de Nápoles


"No reino em que as almas flutuam no meio das flores, caminharemos os dois de mãos dadas".

Shakespeare, António e Cleópatra

Retirado daqui

01/11/2010

Memórias...

Anna Netrebko - Puccini -Quando Me'n Vo, La Boheme


A beleza da voz, da ária... memórias que chegaram e julgava esquecidas.

Ainda a chuva... leituras

Ao sabor da chuva veio-me à memória um livro que li em 2001, quando foi publicado pela D. Quixote, As Velas Ardem Até Ao Fim, de Sandór Marái. Estive para o levar para a Hungria para reler durante a minha estadia naquelas paragens. Não o levei. A chuva, a melancolia, as constantes perguntas sobre o que é a vida levaram-me ontem, ao seu encontro, numa tarde de Domingo.
Qual é o significado da vida?
x
Claude Monet, Cliffs at Pourville, Rain, 1896


A chuva bate oblíqua na minha janela...
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Cry Me a River. [Nota - a vida é como um rio que corre]
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«Eros está no fundo de todos os afectos, de todas as relações humanas. (...) Li e reli Platão também várias vezes, porque na escola ainda não o tinha percebido. A amizade, pensava eu - e tu, que andaste mais perto pelo mundo fora, certamente sabes mais e melhor que eu, aqui na minha solidão campestre - , é a relação humana mais nobre que pode haver entre os seres humanos. É curioso, os animais conhecem-na também. Existe amizade, altruismo, solidariedade entre os animais».
p.81
x
«Pensas também que o significado da vida não seja outro senão a paixão, que um dia invade o nosso coração, a nossa alma e o nosso corpo, e depois arde para sempre até à morte? Aconteça o que acontecer? E que se nós vivemos essa paixão, talvez não tenhamos vivido em vão? É assim tão profunda, tão maldosa, tão grandiosa e desumana a paixão?... E talvez não se dirija a uma pessoa em concreto, mas apenas ao desejo do mesmo? ... Essa é a pergunta. Ou dirige-se a uma pessoa em concreto, desde sempre e para sempre à única e mesma pessoa misteriosa, que pode ser boa ou má, mas cujas acções e qualidades não influenciam a intensidade da paixão que nos une a ela?»
p.152
ee as velas arderam até ao fim...
Sándor Márai, As Velas Ardem Até Ao Fim, Lisboa: D. Quixote, 2001, p.81 e 152.

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